O cubano Wifredo Lam foi um artista que se reinventou nas derrotas.
Fugiu da Guerra Civil Espanhola e chegou na França com o sofrimento da perda. Mas encontrou um novo contexto, tanto de vida quanto artístico, o ponto de partida que o transformou em um dos mais importantes surrealistas da arte: uma retrospectiva com 80 trabalhos, todos do acervo do Museu de Belas Artes de Cuba, podem ser vistas em Wifredo Lam – O Espírito da Criação, em cartaz desde a última terça-feira (2) no Museu Oscar Niemeyer (MON). É a maior mostra no país feita sobre Lam.
Pinturas e gravuras, muitas expostas pela primeira vez no Brasil, fazem parte do conjunto, que detalha suas diferentes fases, além da versatilidade: segundo o curador, Roberto Cobas, ao mesmo tempo em que ele descobria técnicas como a gravura em água forte e papel, também pintava telas em óleo, de grandes dimensões.
Internacional
Filho de um escrivão chinês e de Ana Serafina Castilla, mestiça com sangue índio e europeu, Wifredo Lam foi criado em Cuba, mas estudou e viveu na Espanha, Paris, e Nova York. O surrealista não teve somente a presença europeia em sua obra: falou muito das paisagens de Cuba, com o uso da cor verde, do vodu e folclore das Caraíbas, influência de sua madrinha.
Refugiado em Paris no final da década de 1930, Lam conheceu o ícone Pablo Picasso, com quem teve uma grande amizade. “É o Picasso quem faz Lam adentrar no cubismo”, conta Roberto, que exemplifica o fato com a tela Mulher com Criança em Cinza, de 1939. “Os elementos geométricos e a simplicidade na estatutária africana do quadro mostram a influência”.
Picasso, de fato, foi uma influência e uma espécie de padrinho para Lam. Porém, o cubano nunca permitiu uma interferência em sua obra, e sim, uma troca de ideias. De qualquer forma, é visível a sua gratidão pelo pintor espanhol: umas das obras, Figura com Asa e Lampião, foi feita para o amigo.
Em 1941, Lam precisa deixar a França por causa do avanço da Segunda Guerra Mundial. Foge pra Marselha e consegue voltar para o país natal. Começa então, uma das fases mais produtivas e brilhantes de sua produção, fala o curador.
É quando ele cria sua obra-prima, A Selva, em 1942 (que pertence ao acervo do MoMa, em Nova York). Nesse retorno, é possível perceber, ainda, a influência da paisagem cubana e dos contos afro-cubanos. A exposição fica em cartaz até 13 de setembro.