Os últimos meses têm sido cinzentos para os pichadores. A cruzada do prefeito João Doria em São Paulo, removendo pichações e antigos grafites, ganhou notabilidade na cidade e gerou discussões acaloradas nas redes sociais, sobre o valor artístico ou não da forma de expressão.
Em Cuba, no entanto, a situação ganhou contornos muito mais dramáticos: o artista e ativista cubano Danilo Maldonado, mais conhecido como El Sexto, arriscou seu pescoço de verdade. Foi preso em novembro por “dano à propriedade do Estado”, mas na verdade ele foi detido por ir contra a ditadura comunista vigente no país. Maldonado escreveu “se fue” (foi-se, em espanhol) em três muros da Havana, capital do país, um dia após a morte de Fidel Castro.
O russo Vladimir Maiakovski, conhecido como “poeta da revolução”, acreditava que a arte era o melhor caminho para a reflexão, para dimensionar os mais diversos sentidos; é inegável que a arte cria processos de microrresistências na sociedade. E se grafite e pichação são formas de resistência, como querem fazer crer os detratores de Dória, o que será que eles pensam a respeito da prisão de El Sexto?
Foram no total 23 tentativas de contato com nomes reconhecidos no meio, mas a grande maioria preferiu abster-se de maiores comentários, talvez por temer represálias ou mero desconhecimento do assunto.
“Muito legal a pauta, mas não quero opinar sobre pichação ou grafite” e “Poxa, não rola: estou fazendo uma pintura o dia todo e não tem nada a falar sobre o assunto” foram algumas das justificativas. Apenas quatro se manifestaram. Confira abaixo as respostas:
Para muitos, o grafismo que não tem mensagem, é marginalizado. Ou seu autor será marginalizado. E essa marginalização parece resultar de todo gesto do poder público em relação as escritas de rua.
O movimento, seja ele grafite ou pichação, ele é democrático. E cada integrante do movimento tem liberdade pra se expressar contra ou a favor de qual seja o governo. O movimento não objetiva ter a sociedade a seu favor, mas a luta contra um sistema elitista e opressor. A arma do pichador é a tinta, a arma do governo é a opressão.
Mais uma vez a narrativa que se reforça e se constrói é por meio de um vocabulário agressivo, que prega guerra, vigilância, delação. E contra o que se quer guerrear? O que se quer apagar? O que não é para ser visto? O que é para se censurar? Se esse conjunto de palavras já não fosse por si só perigoso e problemático, o que não se diz, as palavras que estão escondidas nas frestas desta maquiagem nos apontam o caminho que esta nova gestão parece querer trilhar. Se a ordem do dia é calar e apagar quem povoa as superfícies da cidade com diversidade, a ordem do dia também indica repressão e um aumento da criminalização, questões que já estão ficando evidentes no nosso dia-a-dia na rua. O que se quer apagar tem cor, classe social e endereço. Uma cultura de rua que vem das margens, mas que não se limita a elas, circula por toda a cidade, transpondo barreiras físicas e simbólicas. Guerrear é não querer o diálogo, diálogo que nem sequer tentou-se estabelecer.
Meu posicionamento está nos meus grafites.
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