Depois de Carlito Carvalhosa ocupar o Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York, Lygia Pape ganhar retrospectiva no Reina Sofia, em Madri, e uma obra de Adriana Varejão ser vendida por US$ 1,7 milhão num leilão da Christie's em Londres, chegou a hora de a arte brasileira mostrar seu valor em galerias internacionais. No próximo dia 28, a filial parisiense da Gagosian, a maior rede de galerias de arte do mundo, abre ao público a exposição "Reinvenção do moderno", com 50 obras de Amilcar de Castro (1920-2002), Hélio Oiticica (1937-1980), Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004) e Mira Schendel (1919-1988), suíça que viveu por quase 40 anos no Brasil. No espaço de 200 metros quadrados situado à margem direita do Rio Sena, metade das obras estará à venda, com preços oscilando entre US$ 50 mil e US$ 750 mil.
- Será nossa grande exibição do outono - adianta ao GLOBO o inglês Paul Jenkins, que há dez meses trabalha para o galerista Lawrence Gagosian no Rio de Janeiro e participou da curadoria da exposição. - Estamos muito confiantes com essa primeira mostra de arte brasileira. Ela será um sucesso tanto artístico quanto comercial.
Em 1959, em oposição ao que enxergava como uma ortodoxia excessiva do movimento concretista, o poeta Ferreira Gullar escreveu um manifesto em que defendia que a arte não deveria ser apenas um objeto, que precisava ter sensibilidade, expressividade e subjetividade, ir além do puramente geométrico. Suas ideias se enraizaram entre os artistas plásticos das décadas de 1960 e 1970 e ganharam expressão em suas produções.
Lygia Clark criou a série de esculturas de metal batizada como "Bichos". Lygia Pape fez a instalação "Tteia", com raios de luz e fios de ouro. Sergio Camargo entregou-se a peças como "Orèe", de madeira pintada de branco com formas orgânicas. Hélio Oiticica mergulhou no guache e produziu os "Metaesquemas". Mira Schendel deu à luz "Caderno Selos", com quadrados de acrílico. E Amilcar de Castro esculpiu peças em madeira como a que ilustra o alto desta página.
Agora, essas obras, oriundas de coleções particulares sediadas no Brasil, nos Estados Unidos e na França, serão exibidas ao público até o dia 5 de novembro. A Gagosian espera ter casa lotada.
- O movimento neoconcreto brasileiro foi muito intenso, muito produtivo. Teve identidade e alma - defende Jenkins. - Seus representantes, entre eles os seis que selecionamos, conseguiram mostrar que a arte não precisava ser linear, que poderia ser cheia de vida e humanidade, mesmo dentro das fronteiras do abstrato. São peças maravilhosas.
O catálogo de "Reinvenção do moderno" leva a assinatura do curador e crítico de arte Paulo Venâncio Filho, que foi pessoalmente convidado pela codiretora da Gagosian de Paris, Serena Cattaneo, para contribuir.
- Será uma exposição poderosa - ele diz. - É a primeira vez que a obra desses seis artistas é reunida, e em uma das galerias mais importantes do mundo, no mês mais nobre do ano na Europa. Será um verdadeiro teste de inserção para a arte brasileira no universo das grandes galerias.
No texto que escreveu para o catálogo, Venâncio Filho optou por falar sobre como esses seis brasileiros se relacionam:
- O Hélio e as duas Lygias sempre foram tratados como mais experimentais, mais radicais, já o Sergio, o Amilcar e a Mira foram vistos como mais seguidores da ordem, mas eu não concordo com isso - diz o crítico. - Todos foram radicais, e é exatamente essa posição que procurei mostrar no catálogo.
Em setembro de 2010, o espaço que abrigará os brasileiros foi ocupado pelo americano Cy Twombly, morto em julho deste ano.
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