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O senso comum costumava bradar que o brasileiro não era politizado, não ia para a rua lutar pelos seus direitos. As manifestações de junho calaram essa concepção e, mesmo sem protestos em massa todos os dias, há muitas classes pelo Brasil mobilizadas pelas mais diversas causas. No Paraná, uma delas é a da área cultural.

Só nesses últimos meses, temos alguns casos. Em abril, atores e agentes da área teatral se reuniram em frente ao Teatro Guaíra para questionar a Secretaria de Estado da Cultura sobre a verba de programação destinada ao espaço. Eles conseguiram, ao menos, levantar uma discussão entre a classe teatral, que relembrou os feitos do teatro em outras décadas. Montagens como o balé O Grande Circo Místico , de 1983, que teve músicas compostas por Edu Lobo e Chico Buarque, chegou a excursionar pelo exterior. Hoje, as produções dos corpos estáveis (Balé Guaíra, Orquestra Sinfônica e G2), mal conseguem viajar pelo Paraná, por causa da verba curta. Mesmo sem uma solução por ora, o problema, pelo menos, foi exposto e debatido.

Mais recentemente, graças à organização dos Conselheiros de Estado da Cultura (Consec) e de integrantes da campanha #contrafusão, formada nas redes sociais, a Secretaria de Estado da Cultura não foi unida com a de Turismo. Após cartas de repúdio, protestos e, principalmente, muita reflexão da área, apontando argumentos que provaram o quanto a junção seria prejudicial, o governo recuou da decisão, que integrava um pacote para corte de gastos. Porém, a pasta de Turismo acabou sendo agregada à secretaria do Esporte.

Nesta semana, integrantes da campanha levaram um bolo para uma das reuniões do Consec, uma espécie de comemoração pela conquista, mas também para lembrar muitos dos problemas no meio cultural – eles apontam, por exemplo, a redução do orçamento para a cultura, de 0,28% em 2013 para 0,25% no próximo ano (o manifesto completo pode ser visto no site contrafusão.org).

Nas redes sociais, anda pipocando entre os cineastas um "aniversário" bastante triste para o Paraná e Curitiba: há um ano, não temos edital estadual ou municipal para a área de audiovisual. Detalhe: quando o prêmio estadual saiu no ano passado, o valor foi de R$ 1,5 milhão, sendo R$ 1 milhão para o longa-metragem. É o mesmo montante desde o início do incentivo, em 2004. Antes da edição de 2012, o estado ficou quatro anos sem o prêmio.

O que já é lamentável, fica ainda pior se considerarmos o ótimo momento do cinema paranaense atual. Só para citar um exemplo, o documentário A Que Deve a Honra da Ilustre Visita Este Simples Marquês?, de Rafael Urban e Terence Keller, que teve a primeira exibição em Curitiba na última quinta-feira, venceu vários prêmios, entre eles, o de melhor direção em documentário curta-metragem no Festival de Brasília, em setembro.

Pichação ou arte?

Na segunda-feira passada, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou texto que eleva a multa por pichação para R$ 1.693,84, e prevê novos valores para o comerciante que vender tinta spray a menores de 18 anos. A linha que define a pichação e a arte urbana hoje no meio artístico é tênue. De qualquer forma, há uma incapacidade das autoridades em valorizar artistas que trabalham nas ruas e deixam a cidade mais viva. Esse embate é mostrado no ótimo documentário Cidade Cinza (na foto acima), em cartaz no Espaço Itaú. Recomendo.

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