Trinta artistas da música independente brasileira assinam novas versões para canções conhecidas na voz de Milton Nascimento na recém-lançada coletânea “Mil Tom”.
Os agitadores da homenagem, Pedro Ferreira e Marcelo Costa (do site Scream & Yell), convidaram nomes expressivos (residentes ou procedentes) de cenas como a do Paraná, Acre, Minas Gerais, Pará e Rio Grande do Sul, em uma espécie de recorte da música brasileira mais recente.
A produção, totalmente colaborativa e independente (sempre a cargo dos artistas convidados), varia. Existem gravações mais simples, como a delicada versão de “Cais” feita pela cantora curitibana Ana Larousse ao lado de Fernando Cappi (do grupo paulista Hurtmold); e registros mais sofisticados, como a versão de “Amor de Índio” por Thaís Gulin (curitibana de nascimento e formação, mas com carreira artística desenvolvida principalmente no Rio de Janeiro).
Produtor ilumina “nova safra ”
O produtor do projeto, Pedro Ferreira, já havia conduzido uma homenagem ao grupo carioca Los Hermanos nos mesmos moldes
Leia a matéria completaEntre as músicas escolhidas pelos artistas, há desde as mais conhecidas do cancioneiro de Milton (como “Maria, Maria”, cuja veia pop foi reforçada pelo grupo carioca Tereza) às menos conhecidas (caso de “Lágrima do Sul”, que teve a pegada rítmica reforçada na interpretação da também carioca Tono).
“É um projeto independente, sem fins lucrativos, com distribuição digital. Procurei deixar as bandas à vontade. Cada artista fez sua escolha, a minha única orientação era: canções que o Milton gravou, que são sucesso com ele – mesmo que não sejam dele, mas estejam ligadas a ele”, conta Ferreira.
A ideia também era gerar versões próprias de cada convidado – proposta que provocou abordagens bastante variadas. Uns não se afastaram tanto do arranjo e da linguagem original das canções, como o Vanguart em “Clube da Esquina N.º 2”. Em casos como o de Fernando Temporão (“Para Lennon & McCartney”), a graça está mais no arranjo que na interpretação (cantar qualquer coisa já conhecida na voz de Milton, é bom lembrar, é um desafio).
Paraná
Quatro artistas mais diretamente ligados à cena curitibana estão na coletânea “Mil Tom”, ao lado de nomes de diferentes regiões do país: a rapper Karol Conka, com “Rouxinol”; a banda Simonami, com “Caçador de Mim”; o grupo A Banda Mais Bonita da Cidade, com “Ponta de Areia”; e a cantora Ana Larousse, com “Cais” (em parceria com Fernando Cappi, do grupo paulista Hurtmold). A cantora curitibana Thaís Gulin, há anos radicada no Rio de Janeiro, fez uma versão para “Amor de Índio.”
Outros já imprimiram sua linguagem de forma mais assertiva. Em “Canoa, Canoa”, o desafio da Filarmônica de Pasárgada (SP) foi criar algo interessante para uma canção cujo arranjo original, de Milton e Nelson Angelo, já era genial. Caso também do bom grupo paulistano Aláfia, que conseguiu incorporar “Saudade dos Aviões da Panair” ao caldeirão criativo que marca seu trabalho; e da rapper curitibana Karol Conka, que despiu “Rouxinol” de sua melodia.
Rashid, outro rapper presente na coletânea. releu “Tudo Que Você Podia Ser” num formato tradicional do rap que improvisa em torno de um refrão conhecido. Já Karol transformou a letra de “Rouxinol” em versos de rap sem improvisar.
“Achei que a música teria que ter um ‘suingado’, alguma coisa a mais”, diz a MC, que trabalhou ao lado do produtor paranaense de música eletrônica Péricles Martins (conhecido pelo nome de Boss In Drama). “Escolhi ‘Rouxinol’ porque era uma canção que ouvi muito em casa quando criança. Eu a ouvia e ficava bem quietinha. Mas como tenho um estilo mais agitado, quis fazer uma coisa bem com a minha cara”, diz.
Já a preocupação da banda paranaense Simonami foi equilibrar a personalidade do grupo, que não é particularmente influenciado pela obra de Milton, ao que pedia a música “Caçador de Mim”, conforme explica a vocalista Layane Soares. “A gente tem ouvido muitas bandas e queríamos colocar um pouco do que a gente gosta de ouvir nas nossas músicas. Queríamos fazer uma coisa mais introspectiva, sem perder a identidade da canção”, diz.
O grupo gravou com o produtor Vinícius Nisi, que também integra a Banda Mais Bonita da Cidade, responsável por uma abordagem minimalista de “Ponta de Areia”.
“A gente tem uma relação especial com Minas Gerais. Achamos massa escolher ‘Ponta de Areia’ por ser uma música que fala de lá”, conta Nisi, que diz ouvir ecos desta música mineira nas criações do grupo, “Acho que o Clube da Esquina foi uma coisa à frente do tempo deles, e que artistas jovens hoje estão descobrindo que aquilo foi algo impressionante, em termos de qualidade musical, de poesia. Era uma coisa mais interessante do que a gente suspeitava antes de se aprofundar nela.”
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