As aquarelas da artista-poeta

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Desde menina, a artista plástica Cleani de Camargo Maranhão Salomon (1933-2005), que completaria 80 anos neste mês, tinha uma espécie de fixação pelas figuras humanas, que desenhava em seus cadernos escolares para assimilar as matérias que aprendia no Instituto de Educação do Paraná. Um pouco mais tarde, como aluna do pintor Guido Viaro (1897-1971), dedicou-se aos retratos em aquarela, uma das partes mais significativas do seu trabalho e que estarão em exposição a partir de hoje no museu homônimo de seu mestre. No total, 25 quadros do acervo de 400 obras estarão expostos (veja o serviço completo da exposição no Guia Gazeta do Povo).

"Ela fez da arte a sua vida", diz o filho Luiz Alberto Maranhão Salomon, que lembra da mãe sempre produzindo nos mais diversos cômodos da casa – menos em seu ateliê. Nas viagens, Cleani carregava os cavaletes e gostava de retratar os dias de descanso. Teve ainda várias fases em seu trabalho, como a religiosa e a de natureza morta, mas gostava mesmo era de desenhar rostos, principalmente de moradores de rua. Essa característica, aliás, a levou a tornar-se parceira da Unesco nos anos 1990. "Ela doou vários trabalhos, e muitos cartões distribuídos pela Unesco por todo o mundo tinham impressos alguma obra da minha mãe", conta Salomon.

O interesse pelas pessoas em situação de rua foi algo que tem relação, acredita o filho, com a personalidade sensível da mãe. Moradora do Água Verde, ela estabeleceu relações duradouras com pessoas que fizeram dos arredores do cemitério o seu lar. Salomon se lembra de um engenheiro, apelidado de professor, que acabou indo viver na rua por problemas familiares. "Era ele quem me ensinava matemática."

Estudo

Cleani estudou por quase dez anos no Ateliê Livre de Guido Viaro até seu fechamento, por conta da morte do pintor. Depois, teve aulas com artistas como Jair Mendes e Luiz Carlos de Andrade Lima. A poeta Helena Kolody (1912-2004) foi outra grande mentora de Cleani, que teve aulas com a escritora no Instituto de Educação. Foi Helena quem a encorajou a escrever poesias, material que a família pretende reunir e publicar em livro.