Cida Moreira se apresenta em espetáculos musicais desde os anos 1970| Foto: Tatiana Faleiro/Divulgação

Embora estejam entre as músicas mais conhecidas da MPB, canções como "Cala a Boca, Bárbara" e "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque, nem sempre trazem à tona o contexto em que surgiram: as peças de teatro.

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A primeira é parte da trilha sonora da montagem Calabar: o Elogio da Traição, de 1973. A segunda, da Ópera do Malandro, de 1978. Mas a lista de clássicos da MPB surgidos no teatro segue, e é sobre este universo que a peça A Música e a Cena pretende jogar luzes nas apresentações de hoje e amanhã, às 21 horas, no Guairão.

A montagem conta com uma veterana – a cantora e atriz Cida Moreira. Ela revisita canções de compositores que já conhece bem, como Kurt Weill, mas também desbrava um repertório que é fruto de pesquisas do diretor Gilberto Gawronski e que inclui raridades como "A Cocaína" – um tango do sambista Sinhô (1888-1930), feito para o teatro de revista. Os arranjos para orquestra de câmara são de Alexandre Brasolim, violonista da Orquestra Sinfônica do Paraná.

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"O material com que trabalhei foi muito forte, capaz de mostrar uma tradição que possibilita tanto à velhinha cantarolar as canções quanto ao jovem se identificar", diz o diretor.

Para Gawronski, a recente tendência de sucessos de montagens brasileiras ao estilo da Broadway pode criar a equivocada impressão de que o Brasil está aprendendo a fazer teatro musicado só agora. No entanto, ele explica que é possível se falar em uma tradição com marcas brasileiras, cuja história remonta a companhias de teatro de revista como a de Walter Pinto (1913-1994) e ocupa um papel central na cultura brasileira a partir do golpe militar de 1964.

"Tem uma produtividade, um jeito brasileiro de interpretar, que não tem aquela precisão do estilo Broadway, mas que está em uma virulência do canto movida pelo teatro social e político brasileiro, que fala da nossa realidade", diz Gawronski. "Isso me parece estar um pouco fora de foco."

Um exemplo seria o espetáculo Show Opinião, de Augusto Boal, que revelou Maria Bethânia e é considerado um dos berços do que seria a MPB. A interpretação teatralizada é uma marca da cantora até hoje, e a canção "Carcará" entrou para a memória do país.

"Mesmo na Broadway, muitas vezes, os americanos desconhecem as canções dos musicais", conta Gawronski, que já morou nos Estados Unidos. "Já o povo brasileiro se sente muito à vontade para cantar".

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