"Há poucos dias recebi uma equipe
russa para me entrevistar.
Eles eram tão russos
que só faltaram desfilar por
Curitiba com suas ushankas, e
dentro de seus hábitos,me
trouxeram de presente uma
garrafa de vodca."
* * * * *
"Meu pai sempre
gostou de música
e em casa nos ensinou
a ouvi-la. Era comum
que a vitrola rodasse
Vaudeville judaico e
música Klezmer enquanto
ele nos explicava e chamava
atenção para detalhes,
nuances, signifcados."
Trechos de Quem Cria, Nasce Todo Dia, de Jaime Lerner
Programe-se
Jaime Lerner
Lançamento de Quem Cria, Nasce Todo Dia (R$ 40) e abertura da exposição Das Vozes da Cidade Jaime Lerner (até 15 de março). MON (R. Marechal Hermes, 999). Dia 11 às 19h. Entrada franca no dia da abertura.
Jaime Lerner nasceu na Rua Barão do Rio Branco, Centro de Curitiba. A família morava no número 593, entre a Visconde de Guarapuava e a André de Barros.
Naqueles anos 1950, tinha de tudo ali. Estação ferroviária, bonde, jornais, rádios, lojas, fábricas. Foi assim que teve a primeira noção de realidade, diz o arquiteto.
Num dia, o Circo Irmãos Queirolo montou acampamento na vizinhança. Lerner ia ao picadeiro todas as noites. "À realidade, misturei fantasia e sonho. Coisas fundamentais para a minha profissão", conta o ex-prefeito de Curitiba (1971-75/1979-83/1979-93) e ex-governador do Paraná (1995-99/1999-2003), que aos 76 anos comemora cinco décadas de prancheta.
A homenagem será em dose dupla, amanhã, no Museu Oscar Niemeyer (MON).
A partir das 19 horas, haverá o lançamento do livro Quem Cria, Nasce Todo Dia (Travessa dos Editores), em que Jaime Lerner, com a verve de um cronista despretensioso, relembra sua infância, as primeiras viagens internacionais, e causos com amigos como Aramis Millarch, cânone do jornalismo cultural de Curitiba.
No mesmo evento, será inaugurada a exposição Das Vozes da Cidade, um panorama sobre os 50 anos de arquitetura e urbanismo de Lerner, figura que ajudou a internacionalizar Curitiba apesar de não ser unanimidade mesmo entre seus pares.
LivroAos 9 anos, Jaime Lerner era um "CDF que chorava se tirasse 9". A passagem é um bom exemplo do tom do livro, uma coletânea de memórias. "Escrevi por puro prazer, não tenho pretensão nenhuma de ser escritor. São histórias de pessoas das quais sempre gostei. E momentos interessantes que vivi", diz o curitibano.
Na introdução, uma espécie de prosa poética alia suas lembranças às idiossincrasias da cidade em que nasceu e que transformou. "Contar é dividir com outros/ Descobertas e incertezas/ Prazeres e vexames/ Ainda mais em Curitiba, onde o olhar é sempre crítico/e o mau olhado sempre cítrico."
A obra é quase uma autobiografia. Os capítulos com títulos pessoais e autorreferentes ("A Vitrine da Loja de Meu Pai", "O Meu Bar Mitzvah", "Turismo de Estudante") misturam-se a confissões engraçadas de um homem público, como a relação trepidante com o jornalista Candido Gomes Chagas, um de seus principais críticos. "Confesso. Contra Candinho cheguei a cometer um atentado. Atentado de amor: contratei o Esmaga, figura popular da cidade, para, com todos os seus perdigotos, beijá-lo em plena Boca Maldita. O público foi ao delírio, Candinho, à loucura e eu, às gargalhadas."
Curioso e divertido é o capítulo "Sou o Forrest Gump da Música", em que Lerner se vangloria de ter comparecido à primeira execução de "Carcará" por Maria Bethânia, no show Opinião, em 1965; ou quando Claudette Soares e Geraldo Vandré cantaram juntos, pela primeira vez, "Chega de Saudade". "Quis repartir o que vivi. Curti muito escrever o livro", conta o arquiteto.
Exposição
A partir de amanhã, a sala 6 do MON receberá cerca de 80 peças do acervo do escritório de Lerner. Mapas, maquetes, plantas, croquis e vídeos estarão expostos para demonstrar, como explica a curadora Valéria Bechara, o começo de uma ideia e o processo de criação do homenageado.
A dificuldade foi excluir algumas peças. "Jaime é um homem de muitas ideias", justifica a arquiteta, que trabalha com Lerner há 30 anos e o define como um sujeito que "enxerga as coisas com muita facilidade". "O urbanista olha um mapa na escala 1/1.000, longe. O Jaime é o contrário disso. Ele olha de cima, e para muito perto."
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