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Ondas do Destino
(Breaking the Waves. Dinamarca/Reino Unido, 1996. Com Emily Watson e Stellan Skarsgård. Versátil. 154 min. Classificação indicativa: 16 anos. Preço médio: R$ 39,90.
Dançando no Escuro
(Dancer in the Dark. Dinamarca/Suécia/Reino Unidos, 2000). Com Björk e Catherine Deneuve. Versátil. 141 min. Classificação indicativa: 14 min. Preço médio: R$ 39,90.
Lars Von Trier é um artista que rejeita o conformismo. Sua obra, muito pessoal, desperta paixão e ódio. E rotulá-lo é, para muitos, uma tentação. Há quem o considere um gênio do cinema contemporâneo, mas não falta tampouco quem o acuse de ser um sádico manipulador, ao embotar seus filmes de violência, explícita ou não, tanto física quanto psicológica, com o firme propósito de incomodar o espectador. Para muitos, também é misógino, por submeter suas protagonistas femininas a verdadeiros martírios, esfolando corpo e alma em tramas trágicas, dilacerantes.
Esse é o caso de Ondas do Destino (1996) e Dançando no Escuro (2000), filmes que a Versátil Home Video, em parceria com a Livraria Cultura, lança no dia 8 de maio em edições especiais, repletas de extras. Digam o que disserem os detratores de Von Trier, ambos são notáveis exercícios de narrativa, e obras às quais é impossível ficar indiferente, tamanha a potência dramática que carregam em suas tramas e imagens.
Responsável por revelar ao mundo o talento da atriz britânica Emily Watson, Ondas do Destino se passa em um vilarejo no interior da Escócia, onde a jovem Bess McNeill se apaixona e se casa com Jan Nyman (Stellan Skarsgård), um dinamarquês que trabalha em uma plataforma de petróleo.
A vida do casal vai aparentemente bem até que o infortúnio os atropela: um acidente deixa Jan tetraplégico para o resto da vida. Impossibilitado de ter uma vida sexual normal, ele pressiona Bess a procurar amantes e lhe contar detalhes de suas relações. Acontece que Bess e isso nunca é completamente explicado sofre de um transtorno neurológico, o que a torna muito mais vulnerável, e dona de uma ingenuidade comovente. A missão que lhe é delegada, portanto, ganha caráter de imolação, de sacrifício. Em nome de um grande, incontestável amor, ela a tudo se submete.
Nesse aspecto, Ondas do Destino se irmana a Dançando no Escuro, um marco na história do cinema digital e um dos movimentos mais contraditórios na trajetória de Von Trier. Dois anos antes de seu lançamento, quando apresentou Os Idiotas no Festival de Cannes, o diretor havia participado de um manifesto chamado Dogma 95, em defesa de um cinema sem artifícios, desprovido de trilha sonora, distante de gêneros, sem efeitos especiais, trucagens e manipulações.
E Dançando no Escuro, que venceu a Palma de Ouro em Cannes, veio contrariar tudo isso: é um musical no qual a narrativa se biparte entre o plano real e o imaginário e tudo, da fotografia à edição de som, passando pela própria trama, é manipulação, artifício, colocando os princípios do Dogma 95 em xeque.
Como Ondas do Destino, Dançando no Escuro também tem uma heroína trágica. Vivida com maestria pela cantora islandesa Björk, premiada como melhor atriz em Cannes, Selma Jezkova é uma imigrante checa nos Estados Unidos que sofre de uma doença hereditária que aos poucos a está deixando cega. Fã de musicais, refugia-se em um mundo imaginário, mais colorido e menos ferino do que sua realidade. Nele, a personagem canta, dança e sonha.
Só que a vida real é cruel: seu filho sofre da mesma enfermidade que Selma, e ela tem de trabalhar dia e noite para economizar o suficiente para pagar uma cirurgia.
Visionário, Lars Von Trier dispensou a película e chegou a utilizar 200 câmeras digitais em uma das cenas mais impressionantes do longa um grande e esfuziante número musical na fábrica onde Selma trabalha.
Mas o que fica de Dançando no Escuro é mesmo o sofrimento quase insuportável da protagonista, uma entre as várias mulheres que, no controverso cinema de Von Trier, são vitimizadas para denunciar a maldade inerente à condição humana.
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