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"Meus desenhos passaram a falar sobre o conceito de poema", diz Bruno Moreschi (de costas) | Divulgação
"Meus desenhos passaram a falar sobre o conceito de poema", diz Bruno Moreschi (de costas)| Foto: Divulgação
  • Abstratos em uma primeira impressão, os desenhos ganham significados se o observador entrar no jogo
  • Moreschi usa nanquim sobre papel e faz pouquíssimos traços, tornando relevante também os espaços em branco
  • Poema de Yang Wanli (1127-1206), que inspirou os desenhos de Bruno Moreschi

Com traços simples na aparência, o jornalista e artista plástico maringaense Bruno Moreschi procura fazer reflexões complexas sobre o desenho e seu posto no mundo da arte. Os resultados dessas reflexões o levaram à Bulgária e à Inglaterra, participando de exposições coletivas na Lessendra Art Gallery, de Sofia, e na Arisu Creative Arts, de Londres.

De volta ao Brasil, conseguiu monta Desenhos Poemas, sua primeira mostra individual. Já apresentada no Museu de Arte de Goiânia (GO), ela terá uma temporada na Pinacoteca de Franca (SP), a começar na próxima segunda-feira. Ele tem planos de exibir os desenhos no Paraná, mas nenhuma data certa.

As nove obras de Moreschi obedecem a um estilo ousado. Sobre a superfície do papel, o artista de 29 anos faz pouquíssimos traços. Pode soar abstrato em uma primeira impressão, mas, quando a provocação embutida no desenho alcança o observador, significados surgem e detalhes mínimos se tornam relevantes.

Uma cadeira

No ambiente do Museu de Arte de Goiânia (MAG) que abrigou a exposição Desenhos Poemas, o visitante via sete obras com molduras brancas penduradas em três paredes igualmente brancas, uma cadeira de madeira ao centro e um pequeno volume de papéis ao lado dela.

Os desenhos ilustravam poemas de Ana Cristina Cesar, e.e. cummings, Giuletta Iannone, Philip Larkin, Rafael Courtoise, Sylvia Plath, Yang Wanli e W.H. Auden, que podiam ser lidos por quem tivessem curiosidade de ocupar a cadeira e fuçar o maço de folhas.

Na origem, nenhuma das obras foi concebida para exposição em museu, mas, sim, para ilustrar poemas publicados na edição de estreia da revista literária Babel, do Rio de Janeiro.

A concepção de cada desenho demorou muito e veio de reflexões que ocuparam o artista durante meses, período em que viu, em um museu de Madri, na Espanha, vários trabalhos da sueca Mira Schendel. "Eu já pensava na relação entre desenho e poema, quando recebi o convite da revista", contou, por telefone, de sua casa na capital paulista.

Ao assumir o trabalho para a Babel, porém, essas reflexões não tinham contornos nítidos. Nas primeiras tentativas, Moreschi tentava transpor o conteúdo dos poemas para os desenhos, mas sem sucesso. Foi uma fase na qual vários esforços foram para a cesta de lixo.

Os estalos de que precisava vieram, justamente, do poema sem título de Yang Wanli, um dos selecionados para a revista. São versos que defendem a plena existência do poema mesmo sem o suporte do texto ou do significado.

Sem sentido

Essa percepção sobre o poema fez com que Moreschi se desapegasse do significado dos textos. "Comecei a reparar no visual dos livros de poemas, nos quais o texto fica centralizado ou voltado para uma das margens da página, com muito espaço em branco", lembrou. "Meus desenhos passaram a falar sobre o conceito de poema, sobre o que está embutido nele, como a espontaneidade e a sutileza entre o nada e muita coisa, representados pelo traço básico, e o vasto branco do papel, que, por ser preponderante, também chama a atenção de quem vê."

O papel telado, no qual os desenhos dessa série foram feitos, não foi escolhido por acaso também. O motivo está no fato de que, por ser repleto de imperfeições, o papel, que é parte integrante de qualquer poema, reivindicaria sua posição junto ao observador. "Queria que as pessoas tivessem e percebessem esse contato direto com o papel", explicou. Em Desenhos Poemas, ele usou apenas nanquim para fazer os traços.

Com todas essas características, os trabalhos não revelam o que são, mas sugerem respostas. A não definição intriga o observador, que não consegue ficar indiferente ao traço, por mais simples que seja. Esse conceito demonstra a liberdade que existe em torno da criação e, também, da apreciação dos desenhos.

"O desenho já foi visto apenas como esboço ou exercício prático de algo mais respeitado", afirmou. "Hoje, é um mundo autônomo que se liberta, abrindo muitas possibilidades na arte contemporânea."

Leia mais

Artista plástico Bruno Moreschi e suas viagens pela Bulgária e pela Inglaterra. www.gazetadopovo.com.br/blog/blogdocadernog

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