É quase irônico que a Pedagogia Waldorf tenha nascido dentro de uma fábrica. Mas conta a história, que, em 1919, o filósofo, cientista e artista austríaco Rudolf Steiner foi convidado por Emil Molt, proprietário da indústria de cigarros Waldorf-Astoria, em Stuttgart, na Alemanha, para fazer uma série de palestras para os trabalhadores do local.
Incentivados por Molt, os operários pediram para que Steiner fundasse e dirigisse uma escola para seus filhos. Surgiu assim a Die Freie Waldorfschule (Escola Waldorf Livre).
A ironia está no fato de que o fazer com as mãos é fundamental nessa pedagogia. Visitei a Turmalina, escola Waldorf no Campo Comprido, numa tarde de veranico no início desta semana. As crianças brincavam livres pelo terreno gramado. Algumas, descalças, subiam em árvores; os meninos jogavam futebol. Um grupo de meninas do quinto ano me recepcionou curioso, me mostrando a bolsinha de tricô que estão fazendo como parte da "época".
Nas escolas Waldorf, apenas um professor fica responsável pela turma e as disciplinas se intercalam em "épocas" que duram um mês. O trabalho manual e artístico é extremamente valorizado como mediador entre as atividades pensante e física. "A questão do fazer é premissa da pedagogia Waldorf. Queremos seres com vontade de atuar no mundo", diz Simone Leyser, professora do quarto ano.
Tudo por lá é vivência e experiência. Já nos primeiros anos de ensino, os estudantes têm contato com lixas, tocos de madeira e pedaços de bambu. Mais tarde, irão fabricar ferramentas, que por sua vez darão formas a pesados utensílios, como gamelas. Esse processo acompanha o crescimento e o desenvolvimento da tenacidade e da força da criança. Quanto mais velha, mais "duro" fica o trabalho. "É a valorização das mãos do homem. As mãos são icônicas da liberdade do fazer do homem", afirma Deriana Miranda, professora do sexto ano, que me conduziu pela escola.
O trabalho com fios segue um processo semelhante e permeia todas as séries, que, no caso da Turmalina, vai até o sétimo. O errar, o ter de desfazer e refazer, acredita Deriana, é um estímulo da vontade, uma forma de aprender a se colocar e, no futuro, lidar com as questões do mundo adulto. O tricô começa em pontos retos e vai ficando mais elaborado à medida em que a criança cresce. A regularidade ou irregularidade dos pontos mostra o pensar e o temperamento. A simples bolsinha tricotada pelas espevitadas meninas da quinta série logo se transformará em uma linda e fofa boneca com a impressão estética de seu criador. Além da perseverança e destreza manual, é o pensamento se materializando.
Desde o jardim de infância, as crianças mergulham nessa dinâmica sutil, que começa desenvolvendo o tato, a percepção e a coordenação motora, muito embora esta última não seja um fim em si na Wladorf. Os professoras estão sempre trabalhando com as mãos em sala de aula, enquanto as atividades se desenrolam: criando uma boneca, cozendo, concertando algo. "Esse testemunho de cultura manual é essencialmente humano. A professora está o tempo todo se dedicando a um trabalho que não é egoísta. É direcionado ao uso e ao outro", conta Deriana.
Ciclos da natureza
O saber olhar para o meio ambiente e o não depredar está embutido nas lições diárias passadas para as crianças. Tudo o que vem do quintal da escola é aproveitado, como os galhos das árvores que caem depois de um temporal.
A natureza e seus ciclos estão sempre sendo evocados. Na "época" do "grão ao pão", por exemplo, as crianças processam o trigo, fazem o pão e assam em fornos construídos com a ajuda delas próprias. Esse processo de conhecimento da origem das coisas quase não permite o uso de material reciclado. A lã da ovelha cuja tosa se tornará fio faz parte de uma história a ser vivenciada. "O aluno vai perceber que é um caminho totalmente diferente ao do petróleo, por exemplo", observa Deriana.
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