Fringe
Confira alguns destaques de hoje na mostra paralela do Festival de Curitiba
A Fábula do Vento do Sul
Dez jovens atores do Grupo Cena Hum encenam a jornada de Aira, que segue o misterioso pássaro Gosto em busca de si mesma, de respostas e do amor. Nessa caminhada, ela encontrará diversos personagens, sempre protegida por Veridiana, a Senhora do Tempo, e Zurieu, o Senhor dos Ventos. O diretor, Humberto Pereira, venceu o Troféu Gralha Azul 2009 na categoria direção de espetáculo para crianças e foi indicado na categoria texto original ou adaptação. A fábula será encenada na Praça da Espanha, às 9 horas.
Gina
Nesta comédia, a cinquentona Gina se apaixona pelos namorados da filha, que tem 20 anos, e passa a viver num universo diferente, onde as relações humanas são distorcidas. Escrita e dirigida por Alexandre França, a peça será apresentada no Teatro da Caixa, às 15 horas. (você)
Na leitura dramática (você) , seis atores representam a cabeça de uma pessoa que não sai da frente da televisão. A plateia é convidada a participar e entrar na mente do personagem, para desvendar o que aconteceu a sua volta. De autoria de Alexandre França e direção de Nina Rosa Sá, a leitura será apresentada no Teatro José Maria Santos, às 15 horas.
Antes do Fim
O diretor curitibano Marcos Damaceno de Árvores Abatidas ou para Luís Melo - apresenta a leitura dramática Antes do Fim, pelo Núcleo de Dramaturgia Sesi/PR, grupo do qual é coordenador. Do jovem dramaturgo Marcelo Bourscheid, um dos participantes do Núcleo, essa reescritura do mito grego de Ifigênia mostra as confissões, remorsos e discórdias de uma família que aguarda o retorno da filha mais velha. A leitura será apresentada no Teatro José Maria Santos, às 18 horas.
The Cachorro Manco Show
A peça The Cachorro Manco Show, vencedora do 2º Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia 2008, mostra um homem de muletas o "cachorro manco" tentando convencer a plateia de que merece abrigo e comida. Nessa tentativa, vários momentos históricos do Brasil e de Portugal são visitados com um humor ácido. Leandro Daniel Colombo, da companhia Vigor Mortis, é quem dá vida ao homem. O autor da peça, Fábio Mendes, venceu o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) 2009 pelotrabalho. Dirigida por Moacir Chaves, a peça será apresentada no Teuni Teatro Experimental da UFPR, às 23 horas.
Confira a programação do Festival de Curitiba
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Um trio de mulheres em cena e na vida real tornaram possível a adaptação para os palcos do romance As Meninas (confira o serviço completo), de Lygia Fagundes Telles, que estreou no ano passado em São Paulo e fará duas apresentações no Festival de Curitiba, hoje amanhã, às 21 horas, no Sesc da Esquina.
Os produtores Clarissa Rockenbach e Fernando Padilha tiveram acesso ao clássico nacional publicado em 1973 ao realizar um trabalho para a faculdade de Rádio e Televisão. "Fiquei completamente arrebatada pelas personagens, mal terminei o livro e já fiquei com saudades", conta Clarissa, que desde então desejava dar vida a uma delas, a romântica Lorena, nos palcos.
Pouco tempo depois, Padilha procurou Lygia Fagundes Telles para lhe pedir autorização para iniciar a montagem. "Como uma garota intuitiva, ela topou sem nem nos conhecer de fato, foi muito aberta desde o início", conta Clarissa. Mas, a escritora indicou aos produtores os dois únicos dramaturgos que, em sua opinião, poderiam adaptar o livro ao seu gosto: Alcides Nogueira, que acabava de estrear a novela Ciranda de Pedra, na Rede Globo, e que, por isso, não poderia participar do projeto, e Maria Adelaide Amaral, que acabava de finalizar a minissérie Queridos Amigos, também produzida pela Globo.
Com muitos projetos ao mesmo tempo, Maria Adelaide teve de refletir até finalmente topar realizar a adaptação da peça que envolveria, ainda, uma outra mulher na fundção de direção, Yara de Novaes. "Para mim foi prazer enorme, adoro a Lygia e este foi um modo de reverenciar a obra e vida dela", diz em entrevista concedida por telefone à Gazeta do Povo.
Ela conta que foi extremamente fiel à obra, não só por uma questão de respeito à autora, mas porque se surpreendeu com a "tremenda" dramaticidade do romance que narra os os encontros e desencontros de três jovens universitárias que moram em um pensionato de freiras em São Paulo, no auge da ditadura militar.
"O que fiz foi apenas tirar o suco da história, que evidentemente é longa, são quase 300 páginas. Como era tão bom, achei que não precisava cometer muito mais do que isso, era pinçar e dar uma organicidade dramática ao texto", explica.
Clarissa aponta algumas adaptações que Maria Adelaide realizou para transpor a história para os palcos. "Ela cria cenas que não existem no livro como forma de dar ritmo à encenação; compila as demais freiras que aparecem no livro em uma só, a Irmã Priscila, que mesmo reunindo traços de várias personagens ficou muito humana; e cria um encontro rápido entre as três personagens juntas, que não aconteceu no livro", diz, referindo-se à sua personagem Lorena e as amigas Lia (Silvia Lourenço) e Ana Clara (Luciana Brites).
A criadora das três meninas, que chorou após se relacionar por tanto tempo com elas durante a escrita, mostrou-se imensamente satisfeita com o resultado após assistir à sessão de estreia em São Paulo, no ano passado. "Ela não se sentiu traída, e é difícil o autor achar uma adaptação fiel ao seu pensamento. Mas, Lygia amou" comemora Maria Adelaide.
A história, que se passa no final dos anos 1960, é um retrato dos diversos comportamentos das pessoas diante da atmosfera de opressão e medo trazida pela ditadura. A questão política adentra o pensionato trazida pela personagem Lia, idealista e guerrilheira, que sonha em rever o namorado, preso político e torturado. "Mas livro e peça dialogam com os tempos atuais ao falar de relações humanas, de três meninas que vivem momentos cruciais de suas vidas. O que elas viviam muito jovens estamos conhecendo hoje aos 30 anos", conta Clarissa, cuja Lorena, de apenas 18 anos, está apaixonada por um homem mais velho e casado.
"A ingenuidade e o romantismo de Lorena são seus aspectos superficiais, ela tem outras facetas como um traço forte de ironia. Por isso, Lygia é tão reconhecida, seus personagens tem uma complexidade quase humana", considera a atriz. Outro aspecto que dá contemporaneidade ao espetáculo é a relação conturbada de Lia com sua mãe, a Mãezinha (vivida por Clarisse Abujamra). Ana Clara, a bela modelo que mergulha nas drogas e que acredita que um casamento rico irá fazê-la feliz, exigiu um trabalho corporal específico. Por isso, Luciana Brites, atriz que já dançou com a coreógrafa Débora Colker, foi escolhida para o papel inicialmente reservado a Barbara Paz, que não pode aceitá-lo por conta de sua participação na novela Viver a Vida.
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