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As Meninas ganham vida no palco

Adaptação do livro de Lygia Fagundes Teles, dirigida por Yara de Noavaes, estreia em Curitiba como parte da Mostra Contemporânea, no Sesc da Esquina

As atrizes Silvia Lourenço, Clarissa Rochenbach e Luciana Brites, em cena do espetáculo As Meninas | Arquivo/ Gazeta do Povo
As atrizes Silvia Lourenço, Clarissa Rochenbach e Luciana Brites, em cena do espetáculo As Meninas (Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo)

Um trio de mulheres em cena e na vida real tornaram possível a adaptação para os palcos do romance As Meninas (confira o serviço completo), de Lygia Fagundes Telles, que estreou no ano passado em São Paulo e fará duas apresentações no Festival de Curitiba, hoje amanhã, às 21 horas, no Sesc da Esquina.

Os produtores Clarissa Rockenbach e Fernando Padilha tiveram acesso ao clássico nacional publicado em 1973 ao realizar um trabalho para a faculdade de Rádio e Televisão. "Fiquei completamente arrebatada pelas personagens, mal terminei o livro e já fiquei com saudades", conta Clarissa, que desde então desejava dar vida a uma delas, a romântica Lorena, nos palcos.

Pouco tempo depois, Padilha procurou Lygia Fagundes Telles para lhe pedir autorização para iniciar a montagem. "Como uma garota intuitiva, ela topou sem nem nos conhecer de fato, foi muito aberta desde o início", conta Clarissa. Mas, a escritora indicou aos produtores os dois únicos dramaturgos que, em sua opinião, poderiam adaptar o livro ao seu gosto: Alcides Nogueira, que acabava de estrear a novela Ciranda de Pedra, na Rede Globo, e que, por isso, não poderia participar do projeto, e Maria Adelaide Amaral, que acabava de finalizar a minissérie Queridos Amigos, também produzida pela Globo.

Com muitos projetos ao mesmo tempo, Maria Adelaide teve de refletir até finalmente topar realizar a adaptação da peça que envolveria, ainda, uma outra mulher na fundção de direção, Yara de Novaes. "Para mim foi prazer enorme, adoro a Lygia e este foi um modo de reverenciar a obra e vida dela", diz em entrevista concedida por telefone à Gazeta do Povo.

Ela conta que foi extremamente fiel à obra, não só por uma questão de respeito à autora, mas porque se surpreendeu com a "tremenda" dramaticidade do romance que narra os os encontros e desencontros de três jovens universitárias que moram em um pensionato de freiras em São Paulo, no auge da ditadura militar.

"O que fiz foi apenas tirar o suco da história, que evidentemente é longa, são quase 300 páginas. Como era tão bom, achei que não precisava ‘cometer’ muito mais do que isso, era pinçar e dar uma organicidade dramática ao texto", explica.

Clarissa aponta algumas adaptações que Maria Adelaide realizou para transpor a história para os palcos. "Ela cria cenas que não existem no livro como forma de dar ritmo à encenação; compila as demais freiras que aparecem no livro em uma só, a Irmã Priscila, que mesmo reunindo traços de várias personagens ficou muito humana; e cria um encontro rápido entre as três personagens juntas, que não aconteceu no livro", diz, referindo-se à sua personagem Lorena e as amigas Lia (Silvia Lourenço) e Ana Clara (Luciana Brites).

A criadora das três meninas, que chorou após se relacionar por tanto tempo com elas durante a escrita, mostrou-se imensamente satisfeita com o resultado após assistir à sessão de estreia em São Paulo, no ano passado. "Ela não se sentiu traída, e é difícil o autor achar uma adaptação fiel ao seu pensamento. Mas, Lygia amou" comemora Maria Adelaide.

A história, que se passa no final dos anos 1960, é um retrato dos diversos comportamentos das pessoas diante da atmosfera de opressão e medo trazida pela ditadura. A questão política adentra o pensionato trazida pela personagem Lia, idealista e guerrilheira, que sonha em rever o namorado, preso político e torturado. "Mas livro e peça dialogam com os tempos atuais ao falar de relações humanas, de três meninas que vivem momentos cruciais de suas vidas. O que elas viviam muito jovens estamos conhecendo hoje aos 30 anos", conta Clarissa, cuja Lorena, de apenas 18 anos, está apaixonada por um homem mais velho e casado.

"A ingenuidade e o romantismo de Lorena são seus aspectos superficiais, ela tem outras facetas como um traço forte de ironia. Por isso, Lygia é tão reconhecida, seus personagens tem uma complexidade quase humana", considera a atriz. Outro aspecto que dá contemporaneidade ao espetáculo é a relação conturbada de Lia com sua mãe, a Mãezinha (vivida por Clarisse Abujamra). Ana Clara, a bela modelo que mergulha nas drogas e que acredita que um casamento rico irá fazê-la feliz, exigiu um trabalho corporal específico. Por isso, Luciana Brites, atriz que já dançou com a coreógrafa Débora Colker, foi escolhida para o papel – inicialmente reservado a Barbara Paz, que não pode aceitá-lo por conta de sua participação na novela Viver a Vida.

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