Na semana passada, mais duas vacas da Cow Parade de Curitiba tornaram-se vítimas de vandalismo. A vaca "Chiclete", que solicitava aos passantes que grudassem uma goma de mascar nas manchas, cada uma representando algum desejo (como amor ou dinheiro), foi jogada escadaria abaixo na Galeria Júlio Moreira, Centro Histórico da cidade. Ficou com as patas dianteiras quebradas. Outra vaca, instalada no Portal Santa Felicidade, foi roubada na quinta-feira, assim como a peça do Parque São Lourenço, furtada ainda em dezembro. Não houve casos similares nas duas Cow Parades organizadas no Brasil, em São Paulo e Belo Horizonte.
Curitiba começou como recordista de propostas, com mais de 700 projetos inscritos, superando a mostra paulista e a mineira. Dos 40 projetos selecionados, apenas 30 saíram do papel, demonstrando desinteresse dos investidores em colocar dinheiro (R$ 30 mil) na empreitada. Em São Paulo, foram realizadas 150 vacas e, na capital mineira, outras 51. Com as obras expostas nas ruas, surgiram, como previsto, algumas intervenções, como as galinhas colocadas nos animais e as pichações.
No entanto, os episódios recentes de vandalismo mais grave deveriam suscitar algumas discussões e perguntas sobre o panorama das artes em Curitiba. Assim pensa Juliano Grus, que anteontem inaugurou, nas Ruínas do São Francisco, no centro de Curitiba, a sua "Vacuritiba das Artes". Trata-se da escultura de uma vaca magérrima que leva inscrição de um poema. "Eu não quis fazer um ataque direto à Cow Parade. Ela é passível de críticas, mas não é o foco central do problema", afirma Grus. O artista pretende "movimentar a opinião pública" para discutir "o descaso com as artes" na cidade, "desde a iniciativa privada reticente em oferecer patrocínio à Cow Parade, até empecilhos legislativos que tornam quase impossível o uso dos espaços públicos", diz.
Grus pretendia instalar sua vaca magra na Praça do Gaúcho, ao lado do Cemitério Municipal São Francisco de Paula, porém foi impossibilitado pelas restrições da lei de eventos. "Eu fui muito bem recebido pela prefeitura ao tentar fazer a minha manifestação. Mas há as questões políticas. É praticamente necessária uma bênção do papa para realizar um evento aqui. O Deep Purple chegou a ficar hospedado no hotel, mas saiu da cidade sem fazer o show há alguns anos. Entendo que há regulamentações, mas espera-se que o governo tenha vontade e iniciativas para fazer com que os eventos aconteçam nesta cidade", afirma.
O artista plástico Tom Lisboa, que já desenvolveu quatro projetos de intervenções urbanas em Curitiba, considera a Cow Parade válida, apesar de não ter obtido a repercussão esperada. "Aqui ela não aconteceu, talvez por questões comerciais e culturais. Não sei especificar motivos. Mesmo a organização do evento ficou decepcionada com o resultado", comenta. Lisboa explica que toda intervenção é sujeita a diversos tipos de reação. "Há quem tire fotografia turística ao lado da vaca e há quem sinta o desejo de destruí-la. Há abertura para todas essas reações", destaca. Lisboa desnevolvou dois projetos paralelos relacionados à Cow Parade, o Cowtadinhas e Cowtadinhos.
Otimismo
De acordo com a empresária Ester Krivkin, da Top Trends, que organiza o evento, depredações são comuns em qualquer cidade do mundo. "São obras ao ar livre suscetíveis a manipulações. As Cow Parades brasileiras têm um índice menor de vandalismo. Já aconteceram coisas muito piores do que essas que ocorreram em Curitiba. A depredação não quer dizer que o evento foi mal recebido na cidade", analisa.
Para a empresária, a repercussão que as depredações geraram entre a imprensa e a população indicam que a exposição é muito valorizada. "É sinal de que as pessoas gostam dos trabalhos e que não querem que eles sejam destruídos. É uma movimentação interessante", opina. A qualidade peculiar e única de Curitiba, afirma Krivkin, é que todas as ações de vandalismo têm sido descontextualizadas, sem uma causa. "Em outras cidades foram manifestações políticas ou de protesto. Em Curitiba, não houve uma conotação específica", observa.
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