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Em novo romance, Amós Oz conta com a ajuda da filha para tentar explicar, afinal de contas, o que é ser judeu? | Divulgação
Em novo romance, Amós Oz conta com a ajuda da filha para tentar explicar, afinal de contas, o que é ser judeu?| Foto: Divulgação

Livro

Os Judeus e as Palavras

Amós Oz. Companhia das Letras. 256 páginas, R$ 39,90. Tradução: George Schlesinger.

Os dois autores de Os Judeus e as Palavras comentam logo no início do livro que estão tratando ali de um assunto que discutem desde que um deles tinha apenas três anos de idade. A explicação é simples: a historiadora Fania Oz-Salzberger é filha do coautor do livro, o romancista Amós Oz. As décadas de discussão deles resultaram em quatro ensaios sobre o judaísmo e a história do povo de que fazem parte. Uma pergunta é fundamental e guia todo o trabalho: afinal, o que é ser judeu?

A resposta pode parecer simples. Ser judeu é acreditar na Torá e nos demais livros sagrados. Ou, também, ser judeu pode ser pertencer a uma família que, etnicamente, historicamente, está ligada a uma cultura e a uma religião. Mas essa não é a explicação favorita dos dois autores. O que eles afirmam é que ser judeu é pertencer a uma certa tradição – e essa tradição tem a ver com livros e com palavras.

Uma das metáforas usadas pelos dois para explicar do que eles estão falando: imagine quatro judeus em torno de uma mesa. Não quatro judeus contemporâneos, mas sim quatro pessoas de épocas bem diferentes e que tenham vivido em locais distintos. Se fosse possível reunir essas pessoas, uma tendo vivido na Palestina antes de Cristo e outra, por exemplo, um judeu pós-criação de Israel, eles poderiam se entender. Primeiro, literalmente, porque falariam o mesmo idioma (o hebraico antigo foi "cirurgicamente ressuscitado" com a criação de Israel e o movimento sionista).

Histórias

Mas não se entenderiam só neste sentido. Os judeus de diversas gerações se entenderiam porque teriam o mesmo acervo de histórias para discutir. Conhecem de cor a história de seu povo. Sabem a importância que Moisés e o êxodo tiveram na sua cultura, assim como conhecem o talmude e outras milhares de histórias que fizeram, de cada um deles, o que são. Isso porque, dizem pai e filha, os judeus têm uma tradição milenar de repassar essas palavras, esses ensinamentos, essa cultura, uns para os outros, obrigatoriamente, geração após geração.

O livro não trata só dessa história: fala também do papel da religião na vida dos judeus atuais (ambos os autores são ateus), sobre o papel das mulheres na cultura judaica (eles tentam mostrar que houve mais liberdade para as mulheres na cultura judaica antiga do que se costuma imaginar) e de diversos outros temas. Alguns deles, na verdade, esotéricos demais para o leitor comum, como a discussão sobre em que ordem surgiram as noções de "judeu" e "judaísmo".

Para o leitor comum, no entanto, há muito que interessa na discussão. A história dos judeus, em si, diz respeito a todos nós, ocidentais, devedores da tradição da Torá. E conhecer a discussão atual sobre o tema é relevante para entender mais sobre religião, sobre Oriente Médio, sobre tolerância e sobre o mundo em geral. As palavras de Oz pai e Oz filha podem nos ajudar a discutir tudo isso.

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