A reação inicial da sociedade estabelecida diante do Festival de Woodstock expressada por seu portavoz na mídia, o New York Times, foi de repulsa e indignação: "Que tipo de cultura é essa, capaz de produzir uma confusão tão colossal? Certamente os pais, os professores e, sem dúvida, os adultos que ajudaram a criar a sociedade contra a qual estes jovens se rebelam tão freneticamente devem assumir uma parcela da responsabilidade por este ultrajante episódio."
Dias depois, avaliando melhor o efeito do evento sobre a mídia, o New York Times suavizava sua crítica, dizendo que Woodstock foi "essencialmente um fenômeno de inocência". Já a revista Time, mais elástica e sempre aberta para a conquista de novos leitores, analisava o fenômeno num ensaio intitulado "A Mensagem do Maior Happening da História. O homem havia pisado na Lua pela primeira vez 25 dias antes e um jornalista descreveu Woodstock como "o dia em que o Homem pisou na Terra". Poucos dias depois, um dos ideólogos mais carismáticos do movimento hippie, Abbie Hoffman, instalava-se no chão atapetado de uma grande editora de Nova Iorque para compor a obra definitiva sobre o festival, Woodstock Nation.
"Dopado de adrenalina, emoção, sono atrasado, música de rock e fumo", ele escreveu Woodstock Nation, uma cartilha revolucionária que mistura textos com uma profusão de fotos, paginada com arte e requinte por Quentin Fiore, o programador visual do Papa da Comunicação, Marshall McLuhan. Mencionando heróis como Elvis [Presley] e Janis [Joplin], Hoffman tenta dar corpo em seu discurso a elementos até então dispersos e fragmentados da contracultura. Chega até a sugerir um território para a sua Nação de Woodstock, resgatando o sonho anarquista dos falanstérios, que o grande teórico anarquista Charles Fourier descreveu em seu livro Le Nouveau Monde Amoureux.
Tom Hayden ele foi, com Abbie Hoffman, um dos Sete de Chicago, processados por perturbar a convenção do Partido Democrata em 1968 comenta, num discurso típico de líder estudantil: "Abbie é um pioneiro nessa luta, mas até agora sua Nação de Woodstock é puramente cultural, um estado mental compartilhado por milhares de jovens. O estágio seguinte será transformar essa Nação de Woodstock numa realidade organizada com suas próprias instituições revolucionárias e, começando imediatamente, com raízes em seu próprio território."
Hayden chega a propor alguns focos territoriais para a Nação de Woodstock: "O cerne destes novos territórios é a lumpen-burguesia, os marginais do estilo de vida americano, a cidade de Berkeley, onde vivem estudantes, gente das ruas, liberais de esquerda e negros, constituindo uma maioria política radical."
No final dos anos 1960, a Intelligentsia debate acirradamente a implantação de uma nova sociedade da contracultura embalada pela trilha sonora do rock. Não é, como sugere o crítico Stanley Booth, "apenas um pouco de páprica no jantar nuclear da tevê". Mas também não é, como querem os radicais da contracultura, a Revolução.
Tom Hayden previu que "grande parte dos acontecimentos dos próximos anos nos Estados Unidos se moverá em torno da luta dos jovens para defender certas zonas liberadas. Assim, se o espírito de Woodstock aparece como uma pré-estréia da sociedade utópica do futuro, ele resume, por outro lado, as contradições do mundo em 1969." Foram três dias de utopia, num fim de semana, sob o olhar vigilante dos pais e dos policiais. O cineasta francês Jean-Luc Godard, sintonizado como poucos com o rock fez um filme com os Rolling Stones (Sympathy for the Devil) e outro com o Jefferson Airplane (One American Movie) sintetizou o dilema entre a revolução política e a revolução cultural na última frase do filme A Chinesa, calcada em slogans maoístas: "... Eu pensava ter dado um grande salto para a frente, mas percebo que na verdade apenas ensaiei os tímidos primeiros passos de uma longa marcha..."
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