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Claudia e Pedro Carmona, na ponte sobre o Arroio Chuí (RS). |
Claudia e Pedro Carmona, na ponte sobre o Arroio Chuí (RS).| Foto:

Perto de completar 100 anos de vida, a atriz Dercy Gonçalves, famosa por sua veia cômica e irreverência, diz que ninguém é mais feliz do que ela. Sem um pingo de nostalgia, ela diz que o passado não interessa. "O ontem acabou. Não tenho mágoa de nada e nem saudade de nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver, adoro a vida". De aniversário, Dercy espera ganhar um único presente: dinheiro. "Gosto de dinheiro. É bom viver sem pedir esmola, sem precisar ir para asilo. Dinheiro não deixa você ser miserável. Tenho medo de faltar dinheiro. Eu vivo sem precisar de ninguém. Como o que quero, vivo como quero. Eu sou feliz e tenho muito respeito por mim", concluiu.Completando um século de vida no dia 23 de junho, só agora ela começa a sentir o peso da idade. Mas ainda assim, é ágil e lúcida. Consegue sentar e levantar com rapidez e sem precisar de ajuda. Ela exercita a memória relembrando a história da sua vida e sabe de cor os trabalhos que fez. "É difícil completar 100 anos porque a vida não é brincadeira. De manhã, quando levanto, acordo desgastada porque não estou em movimento. Então faço exercício e alongamento logo de manhã. É preciso estar em atividade. Com 100 anos, tudo fica mais difícil, às vezes esqueço as coisas, mas não perdi a inteligência", defende.

Convidada especial da peça "Pout-pourRir", em cartaz no Teatro dos Quatro, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro, a atriz diz que vai fazer o que ama: estar no palco. Mas garante que não sai de casa sem receber. "De graça, não trabalho", argumenta.

Vaidosa, a comediante diz que já fez mais de dez plásticas. "Não quero ficar feia. Também já fui criança ou você pensa que fui velha a vida inteira?", brinca. Depois de se curar de um câncer e sobreviver a uma tuberculose, ela se acha uma vencedora. "Tudo que passou, acabou. Eu sobrevivi."

Em relação ao amor, ela é cética. "Amor não existe. Nem amigos. O que existe é respeito" diz ela que tem uma filha, dois netos e dois bisnetos. Seu maior entusiasmo? É fácil adivinhar. "Minha grande paixão foi o teatro. Foi a única coisa que amei na vida", relembra.

Dercy fala que fugiu de casa aos 14 anos e não se arrepende. Argumenta que aprendeu tudo o que sabe da melhor forma possível: vivendo. "Meti a cara, casei. Vivi 20 anos casada, com dignidade. Nada de ruim me aconteceu. Não me envergonho de nada."

Mesmo depois de ter viajado por vários países, Dercy diz que não tem lugar mais bonito que o Brasil. "Conheço mais da metade do mundo. Não tem país de mais calma e dignidade que o Brasil. Isso aqui é lindo". Apesar disso, ela diz que sente que houve mudanças no decorrer dos anos. "Eu acho que mudou um pouco a moral. Acho o tóxico um crime."

Conhecida por sua irreverência e pelos palavrões que costuma dizer, ela garante que não é desbocada. "Palavrão é falta de estradas, é pagar pedágio, é falta de comida para o pobre. Isso que é palavrão. É ofensa à humanidade. Poluir o ar e a água que você bebe é ofensa", declara.

A atriz afirma que não é religiosa, mas acredita na natureza. "Não acredito em santo nenhum. Minha religião é a natureza. Deus é um apelido. Ele pra mim não existe. O que existe é a natureza. Deus é fantasma, mas a natureza é a verdade", acredita. Sobre a visita do Papa ao Brasil, ela se limita a dizer: "Dá um abraço nele por mim. Diz que eu mandei."

Dercy não sabe se terá festa no dia do seu aniversário, mas comemora a idade lançando o DVD "Dercy 100", que traz a sua história. "No DVD tem toda a minha vida. Cem anos é muita coisa para viver. Não quero ficar gagá. Prefiro morrer. Não quero ficar feia e me olhar e não me gostar. Eu quero me amar", finaliza.

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