Foram os livros que colocaram a navegação na vida de Amyr Klink. O velejador conta que foram os livros de aventura e os relatos de expedições marítimas que o tornaram o marinheiro que viaja pelo mundo e escreve sobre suas aventuras. Autor de cinco livros, Klink já viajou mais de 40 vezes para a Antártica e atravessou o Oceano Atlântico em um barco a remo.
Klink participou da segunda edição do Festival Literário de Araxá (Fliaraxá) e falou sobre a relação entre a literatura e as viagens marítimas. O evento literário na cidade mineira terminou ontem e recebeu nomes importantes da cultura nacional. Leia a seguir a entrevista com Amyr Klink:
O senhor disse que chegou ao mar por conta dos livros. Como isso aconteceu?
Eu sou de uma família de imigrantes [pai libanês e mãe sueca] e nunca tive a perspectiva de sair de São Paulo. Me encantei com os livros desde pequeno, pois era uma forma de viajar e de conhecer mundos diferentes. No início, eu era bastante seletivo, gostava de ler as histórias de Júlio Verne, mas, depois que eu li A Expedição Kon-Tiki [relato do explorador norueguês Thor Heyerdahl pelo Oceano Pacífico], comecei a prestar atenção nessas histórias verdadeiras. Foi essa iniciação que me trouxe para a literatura de viagem. Essas viagens marítimas, em especial para as regiões polares, produzem ótimos relatos. Um belo dia, me tornei, quase sem perceber, protagonista dos livros que eu gostava de ler.
Durante as longas viagens que o senhor faz, é preciso manter um diário de bordo. O fato de ter de escrever sobre como foi cada dia é o que o estimula a escrever um livro sobre a viagem?
As viagens marítimas têm esse ritual. Te obrigam a fazer o relatório constante da viagem. Essa simples formalidade é ótima. Quando você faz o registro sistemático de qualquer atividade humana, depois de um tempo, tem conteúdo para contar uma grande história. Quando as minhas primeiras viagens terminavam e eu relia os diários, pensava: "que história maluca". Eu lamento que na cultura brasileira, nossa educação não tenha incluído o ato de escrever diários. Para quem tem queda pela palavra escrita, é um passo grande para entrar de cabeça no mundo das letras.
Nessas viagens, o senhor trabalha em situações muito arriscadas. Como é levar a família a bordo? A sensação de risco e responsabilidade fica ainda maior?
O risco é o estímulo do viajante. Eu fiz mais de 40 viagens até a Antártica. Fui comandante em umas 20, mas até levar a minha família ainda não tinha sentido o peso da responsabilidade. Mas, quando você está com os filhos pequenos, as coisas mudam de figura. Eu nunca quis induzir ninguém da minha família a se tornar viajante ou escritor. O que acontece é que nossas ações influenciam o círculo mais próximo.
O jornalista viajou a convite do festival.