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24 horas no personagem: 
Daniel Day-Lewis ganha mídia pela excentricidade de seus métodos de interpretação, mas a verdade é que sua pesquisa aprofundada tem resultados visíveis. Em Lincoln (foto), de Steven Spielberg, o ator passou meses vivendo como se fosse o ex-presidente do século 19, chegando a assinar como ele. O Oscar de melhor ator pelo papel não foi surpresa | Divulgação
24 horas no personagem: Daniel Day-Lewis ganha mídia pela excentricidade de seus métodos de interpretação, mas a verdade é que sua pesquisa aprofundada tem resultados visíveis. Em Lincoln (foto), de Steven Spielberg, o ator passou meses vivendo como se fosse o ex-presidente do século 19, chegando a assinar como ele. O Oscar de melhor ator pelo papel não foi surpresa| Foto: Divulgação

Psicologismo

No teatro e no cinema, o termo remete ao uso de memórias, experiências próprias e símbolos pelo ator para afetar suas emoções – e chorar, por exemplo. A técnica é criticada atualmente por recorrer mais ao intelecto do que ao corpo e "alma" do profissional.

Presentificação

O termo se torna corrente para denominar uma forma de atuação em que o ator incorpora personagens usando estímulos tanto externos como internos, como roupas, experiências com a voz e com o corpo. A vivência nos ensaios e a reação à atuação do colega são valorizadas.

Espetáculo

O Malefício da MariposaSesc Água Verde (Av. República Argentina, 944 – Água Verde), (41) 3342-7577. Dia 23 de agosto, às 20 horas. Festival Palco Giratório. R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada) e gratuito para comerciários. Classificação indicativa: livre.

  • Dama múltipla: Fernanda Montenegro não só fez papéis populares como Dora, de Central do Brasil, que quase lhe rendeu o Oscar, mas também mulheres na fronteira do humano nas mãos de diretores como Gerald Thomas. Com Felipe Hirsch, encarnou Simone de Beauvoir no monólogo Viver sem Tempos Mortos (foto). Sua identificação foi tanta que, em algumas entrevistas, ela optava por recitar trechos da autora francesa a usar suas próprias palavras

Em breve, Curitiba será varrida por uma enxurrada de peças teatrais fruto de novas experiências de dramaturgia. Os cerca de 60 atores envolvidos com o Núcleo de Dramaturgia do Sesi apresentarão os trabalhos só em dezembro, mas nesta semana, de terça a quinta-feira, passam pelo crivo da atriz Juliana Galdino, premiada com o Shell por Medéia 1 e 2 e criadora, ao lado de Roberto Alvim, do paulistano Club Noir.

A oficina de interpretação busca orientar as 24 peças para que ganhem sintonia com o projeto estético dos diretores alunos do núcleo. "Não existe um método a ser replicado. [Teatro] é um posicionamento existencial", disse Juliana à Gazeta do Povo.

É bom ver a experimentação contaminando a interpretação dos atores, talvez inspirados em experiências de "busca radical pelo personagem" que podem ser observadas dentro e fora de Curitiba.

Já virou lenda a "entrega" do ator britânico Daniel Day-Lewis a cada papel que defende (como em Meu Pé Esquerdo, em que quebrou duas costelas ao simular uma deficiência, ou Gangues de Nova York, que se passa no século 19 e em que ele usou roupas de época ininterruptamente por dois meses, chegando a pegar pneumonia e se recusando, claro, a ir ao médico). No último, Lincoln, de Steven Spielberg, ele passou a assinar com as iniciais do ex-presidente norte-americano. "Ele permanece 24 horas no personagem, com forte carga psicológica, e um apego ao aspecto visual de quem ele está retratando", explica o diretor curitibano Dimis Jean Sores (de Peça Ruim).

"Você não sabe muito bem o que fazer quando acaba. Me senti privilegiado de explorar a vida desse homem e tristeza e perda de que aquele tempo tivesse acabado", descreveu Lewis em uma palestra.

No Brasil, a veterana Fernanda Montenegro acumula cancha após inúmeros trabalhos ao lado de diferentes diretores. Seu currículo alia o naturalismo convincente de Dora em Central do Brasil a experimentos grotescos de Gerald Thomas, como fazê-la dividir um pirulito com a filha Fernanda Torres, entre outras coisas.

A influência de diretores estrangeiros na estética de diretores brasileiros não se restringe a Thomas. Após uma temporada com o artista do Théâtre du Soleil Andrés Pérez, no Chile, a diretora Ana Rosa Tezza cita o aprendizado da disciplina exigente e do apuro visual nos trabalhos. A estreia de sua companhia Ave Lola ocorreu em 2012 com O Malefício da Mariposa, obra de Federíco García Lorca que ganhou uma montagem delicada, em que um inseto do campo se apaixona por uma fatídica mariposa. Não à toa, dois dos atores terminaram o ano com os troféus Gralha Azul, maior prêmio paranaense, de melhor ator e atriz.

"Observei muito os insetos, víamos documentários e depois eu transpunha os movimentos no ensaio", conta o ator Val Salles, que viveu o protagonista Curianito. "Não acredito no psicologismo [veja ao lado], que te tira do presente. No meio do ensaio, pensar atrapalha", brinca.

"Foi um processo trabalhoso. A personagem demorou para vir, e veio através de uma voz e um corpo que um dia eu fiz", explica a atriz Janine de Campos. O espetáculo terá nova sessão dia 23 de agosto durante o Festival Palco Giratório.

E assim caminha o teatro curitibano – e brasileiro. Apesar de tanta coisa nova estar acontecendo, na opinião de Juliana Galdino, muitos trabalhos ainda estão presos à necessidade de comunicar uma mensagem, mais do que de experimentar. "As coisas não precisam ser feitas para serem gostadas."

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