Psicologismo
No teatro e no cinema, o termo remete ao uso de memórias, experiências próprias e símbolos pelo ator para afetar suas emoções e chorar, por exemplo. A técnica é criticada atualmente por recorrer mais ao intelecto do que ao corpo e "alma" do profissional.
Presentificação
O termo se torna corrente para denominar uma forma de atuação em que o ator incorpora personagens usando estímulos tanto externos como internos, como roupas, experiências com a voz e com o corpo. A vivência nos ensaios e a reação à atuação do colega são valorizadas.
Espetáculo
O Malefício da MariposaSesc Água Verde (Av. República Argentina, 944 Água Verde), (41) 3342-7577. Dia 23 de agosto, às 20 horas. Festival Palco Giratório. R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada) e gratuito para comerciários. Classificação indicativa: livre.
Em breve, Curitiba será varrida por uma enxurrada de peças teatrais fruto de novas experiências de dramaturgia. Os cerca de 60 atores envolvidos com o Núcleo de Dramaturgia do Sesi apresentarão os trabalhos só em dezembro, mas nesta semana, de terça a quinta-feira, passam pelo crivo da atriz Juliana Galdino, premiada com o Shell por Medéia 1 e 2 e criadora, ao lado de Roberto Alvim, do paulistano Club Noir.
A oficina de interpretação busca orientar as 24 peças para que ganhem sintonia com o projeto estético dos diretores alunos do núcleo. "Não existe um método a ser replicado. [Teatro] é um posicionamento existencial", disse Juliana à Gazeta do Povo.
É bom ver a experimentação contaminando a interpretação dos atores, talvez inspirados em experiências de "busca radical pelo personagem" que podem ser observadas dentro e fora de Curitiba.
Já virou lenda a "entrega" do ator britânico Daniel Day-Lewis a cada papel que defende (como em Meu Pé Esquerdo, em que quebrou duas costelas ao simular uma deficiência, ou Gangues de Nova York, que se passa no século 19 e em que ele usou roupas de época ininterruptamente por dois meses, chegando a pegar pneumonia e se recusando, claro, a ir ao médico). No último, Lincoln, de Steven Spielberg, ele passou a assinar com as iniciais do ex-presidente norte-americano. "Ele permanece 24 horas no personagem, com forte carga psicológica, e um apego ao aspecto visual de quem ele está retratando", explica o diretor curitibano Dimis Jean Sores (de Peça Ruim).
"Você não sabe muito bem o que fazer quando acaba. Me senti privilegiado de explorar a vida desse homem e tristeza e perda de que aquele tempo tivesse acabado", descreveu Lewis em uma palestra.
No Brasil, a veterana Fernanda Montenegro acumula cancha após inúmeros trabalhos ao lado de diferentes diretores. Seu currículo alia o naturalismo convincente de Dora em Central do Brasil a experimentos grotescos de Gerald Thomas, como fazê-la dividir um pirulito com a filha Fernanda Torres, entre outras coisas.
A influência de diretores estrangeiros na estética de diretores brasileiros não se restringe a Thomas. Após uma temporada com o artista do Théâtre du Soleil Andrés Pérez, no Chile, a diretora Ana Rosa Tezza cita o aprendizado da disciplina exigente e do apuro visual nos trabalhos. A estreia de sua companhia Ave Lola ocorreu em 2012 com O Malefício da Mariposa, obra de Federíco García Lorca que ganhou uma montagem delicada, em que um inseto do campo se apaixona por uma fatídica mariposa. Não à toa, dois dos atores terminaram o ano com os troféus Gralha Azul, maior prêmio paranaense, de melhor ator e atriz.
"Observei muito os insetos, víamos documentários e depois eu transpunha os movimentos no ensaio", conta o ator Val Salles, que viveu o protagonista Curianito. "Não acredito no psicologismo [veja ao lado], que te tira do presente. No meio do ensaio, pensar atrapalha", brinca.
"Foi um processo trabalhoso. A personagem demorou para vir, e veio através de uma voz e um corpo que um dia eu fiz", explica a atriz Janine de Campos. O espetáculo terá nova sessão dia 23 de agosto durante o Festival Palco Giratório.
E assim caminha o teatro curitibano e brasileiro. Apesar de tanta coisa nova estar acontecendo, na opinião de Juliana Galdino, muitos trabalhos ainda estão presos à necessidade de comunicar uma mensagem, mais do que de experimentar. "As coisas não precisam ser feitas para serem gostadas."