Há muitos filmes sobre a tentativa de captura de criminosos de guerra nazistas. O uruguaio Sr. Kaplan, uma das estreias desta quinta-feira (26), não se parece com nenhum deles.
A diferença do filme é a figura de seu caçador de nazistas: um frágil e entediado senhor judeu de 76 anos, Jacob Kaplan (Héctor Noguera).
Tendo fugido da Europa durante os horrores da Segunda Guerra e construído uma vida pacata ao lado da mulher, dois filhos e uma neta, o senhor Kaplan chega à velhice se perguntando qual foi o sentido de sua vida.
A resposta surge quando o protagonista ouve dizer que um ex-oficial nazista vive isolado em uma praia perto de onde ele mora. Sequestrar “o alemão misterioso” e levá-lo a um julgamento em Israel passa a ser seu maior objetivo.
Para ajudá-lo, o senhor Kaplan convoca Wilson Contreras (o excelente Néstor Guzzini, de Tanta Água), ex-policial obeso e desastrado.
O diretor Álvaro Brechner sabe tirar humor da disparidade entre a importância da tarefa e a inadequação dos que se dispõem a executá-la. É como se O Gordo e o Magro, em uma versão uruguaia, brincassem de Simon Wiesenthal, o célebre caçador de nazistas, e tentassem prender sozinhos Josef Mengele.
Em uma chave menor, Brechner faz o mesmo que Quentin Tarantino em Bastardos Inglórios: dessacralizar a abordagem do nazismo no cinema; entender que o riso também pode ser uma arma contra o horror.
Mas a levada de Sr. Kaplan tem menos a ver com o inspirado histrionismo de Tarantino do que com Alexander Payne (Sideways – Entre Umas e Outras), uma comédia ligeira sobre temas dramáticos que tenta expor o absurdo da vida, mesmo que para isso precise recorrer a um ou outro momento de pastelão.
As coisas se complicam, no filme e para o filme, quando chega o momento da gravidade, do embate entre o nazista e seu caçador, da memória do Holocausto.
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