As grandes cantoras sempre foram meio atrizes. De pouco ou nada adianta uma voz espetacular, ou uma técnica depurada, se a interpretação nada disser e a canção se transformar em mero veículo para um talento sem maior capacidade de transmitir emoção, ou de contar histórias. Talvez por isso, de Billie Holiday a Ná Ozzetti, de Edith Piaf a Nara Leão, as artistas que permanecem, independentemente de alcance ou potência, são aquelas que conseguem encontrar algo a dizer nas músicas que escolhem.
Talvez por isso que o caso de Soraya Ravenle seja curioso. Porque ela é, até segunda ordem, uma atriz que canta. Com 25 anos de palco, mais de duas dezenas de espetáculos musicais na bagagem, quase sempre soltou a voz "vestindo" uma personagem. Mas agora o enredo é outro. No álbum Arco do Tempo, lançado pela gravadora Biscoito Fino, a artista se despe desses papéis. E surge em cena como ela mesma.
Soraya interpreta 11 canções, algumas inéditas outras bem conhecidas, do compositor carioca Paulo César Pinheiro, de 61 anos, cuja obra já alçou voo nas vozes de gigantes, como Elizeth Cardoso, Elis Regina e Clara Nunes, que foi sua esposa.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Soraya, aos 47 anos, diz que não há como dissociar a cantora da atriz, até porque cada canção tem uma história a contar, um personagem pedindo para ganhar voz, mas atuar no palco e interpretar uma música não são experiências idênticas, apenas aparentadas.
Arco do Tempo já deveria ter acontecido na vida de Soraya antes. Ela, que é irmã da cantora de jazz Ithamara Koorax, tinha planos de gravar um disco há pelo menos seis anos, mas sua carreira nos palcos impediu que o projeto saísse do campo das intenções.
A atriz acabou se envolvendo com uma sucessão de musicais. O primeiro foi A Estrela Dalva, inspirado na vida e na obra de Dalva de Oliveira. Houve dois enormes sucessos populares, Sassaricando e É com Esse Que Eu Vou (apresentado no último Festival de Curitiba). E agora ela está de volta à cena com Um Violinista no Telhado, clássico da Broadway e, desde este mês, em cartaz no Rio de Janeiro, sob a direção da dupla dinâmica do gênero no país, Charles Möeller e Claudio Botelho.
Afinadíssima
Sem querer se livrar do estigma de atriz, mas assumindo seus talentos dramáticos, buscando usá-los com parcimônia, Soraya, com sua voz límpida e afinadíssima, se mostra à vontade tanto no arrebatado tango "Cristal Lilás" (de Pinheiro com Maurício Carrilho), no desaforado samba "Carta Branca" (parceria com Baden Powell), no contagiante frevo "Ninho de Vespa" (coassinado por Dori Caymmi) ou na mais contemporânea "Lua Candeia", ciranda composta a quatro mãos com o pernambucano Lenine.
No CD, não ficaram de fora grandes sucessos dos anos 70, como "Viagem" (de Pinheiro com João de Aquino), gravada originalmente por Marisa Gata Mansa, ou "Súplica", parceria com João Nogueira, que também a gravou. Resumindo, Arco do Tempo é um belo disco de estreia de uma artista veterana. GGGG
Serviço
Arco do Tempo, de Soraya Revenle.
Biscoito Fino. Preço médio: R$ 36.
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