Aurélio Buarque, o homem das palavras

• 0

Se você fica na dúvida do que seja uma "doula" ou tem curiosidade sobre a definição mais erudita para "ricardão", no final deste mês poderá encontrar essas e mais uma centena de novas palavras na 5.ª edição do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, que será lançado durante a 21.ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, entre 12 e 22 de agosto.

A edição atualizada marca os 100 anos de nascimento do lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989), criador do Aurélio. Para tanto, a Editora Positivo, responsável pela edição em parceria com a viúva de Aurélio, Marina Baird Ferreira, lança um volume, digamos, "glamourizado" – glamourizar é outro novo verbete. Além da edição tradicional, uma versão gold, com capa dourada, será presenteada para um grupo seleto de 300 pessoas.

Para chegar às mãos do leitor sem o ranço de uma publicação pesada e ultrapassada, o esforço da editora foi no sentido de deixar o dicionário mais arejado. Inspirado na caligrafia do autor, o projeto gráfico foi reformulado, incluindo uma pequena modificação na logomarca. Verbetes ganharam cor azul e o espaçamento entre as palavras está maior. "Não é fácil inovar por mais fundamental que o dicionário seja", admite Emerson Santos, diretor-geral da Editora Positivo.

A maior novidade é a seleção das três mil palavras mais usadas pelos brasileiros, identificadas por meio de um cruzamento de dados de publicações digitais, portais de notícias, livros didáticos e de literatura em um acervo de mais de 5 milhões de ocorrências. Esses verbetes são facilmente localizados com um fundo colorido.

A nova edição do Aurélio tem 2.272 páginas e mais de 435 mil verbetes, locuções e definições, sendo que entre 5% e 6% são de novas palavras. Para se tornar verbete, uma palavra cumpre um período de quarentena de aproximadamente cinco anos. Entretanto, a rapidez com que os meios eletrônicos impõem novas expressões na comunicação do dia-a-dia está fazendo com que os dicionários revejam essa tradição. "Quando há uma palavra que emplacou de forma ampla, acaba sendo promovida mais rápido. Há uma tendência de revisão mais curta nos dicionários porque o uso da língua está sofrendo transformações muito rapidamente", afirma Santos. É o caso de tuitar, referente ao ato de reproduzir mensagens por meio da rede social Twitter.

A última edição atualizada do Aurélio foi lançada em 2004, quando a Editora Positivo adquiriu os direitos de publicação do dicionário. Uma versão revista com o Novo Acordo Ortográfico saiu no ano passado.

O dicionário mais popular do Brasil – que tem como peculiaridade não só explicar as palavras como contextualizar o seu uso – se adapta aos novos meios de comunicação. Além do Aurélio, que vem com um CD, a edição atualizada será lançada nos formatos Mini, Aurélio Ilustrado e Aurelinho. Há ainda a versão em CD-ROM e a eletrônica, que pode ser baixada para iPhone e mp3.

O maior desafio, segundo Emerson Santos, é levar conteúdo a uma nova geração de crianças que já nasce "eletrônica". "Nos últimos dois anos estruturamos um grande trabalho dentro das escolas brasileiras. Queremos que crianças aprendam a manusear o dicionário", diz.

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira nasceu em Passo de Camaragibe, Alagoas. Aos 14 anos já demonstrava extrema intimidade com as palavras dando aulas particulares de Português. Formado em Direito no Recife, tornou-se professor de Língua Portuguesa, Francesa e Literatura. No Rio de Janeiro, onde continuou no magistério, publicou contos, crônicas e artigos. Em 1941, começou o trabalho de lexicógrafo, colaborando com o Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa. Realizou o sonho de publicar um dicionário próprio em 1975.

Serviço:

Na internet: www.aureliopositivo.com.br