• Carregando...

O Museu Oscar Niemeyer (MON) abre amanhã para a visitação pública duas exposições que integram as comemorações de dois anos de atividades da instituição sob a responsabilidade da equipe comandada pela primeira-dama, Maristela Requião.

Farnese mostra objetos criados pelo desenhista, gravador e pintor mineiro Farnese de Andrade (1926 – 1996). Em outros espaços, estarão as 450 obras da coleção do jornalista Odorico Tavares, batizada de A Minha Casa Baiana – Sonhos e Desejos de um Colecionador de Arte, que reúne, entre outras preciosidades, obras de Portinari, Di Cavalcanti, Djanira, Segall, Volpi, Mabe, Picasso, Miró, Matisse e Georges Roualt.

O teor passional e autobiográfico talvez seja a marca mais forte das criações de Farnese. A impressão provocada por uma rápida pesquisa a seu respeito é de que suas criações seriam obras fechadas em um universo de referências muito pessoais. Frente a frente com as obras, entretanto, a sensação se desfaz. Ao contrário do excesso de códigos característico da produção contemporânea, a produção de Farnese se mostra de fácil assimilação e toca, especialmente, as emoções do espectador.

A curadoria de Charles Cosac se concentrou nas assemblages (objetos), construídos a partir da sobreposição de elementos que usam, principalmente, a madeira e a resina para envolver fotografias, imagens de santos populares, gamelas, pedaços de bonecas e restos, que – segundo conta o curador – o artista ia recolhendo enquanto caminhava. Ele nunca esculpiu. No máximo, deixou o tempo agir nas formas que ia coletar. Farnese compunha formas, sobrepondo elementos que, alerta Cosac, nunca eram "procurados" para uma determinada obra.

Curioso é que obras muitas vezes incômodas, como as do mineiro, atraiam mais as crianças, conforme observa o curador. Isso porque as cabeças de bonecas dentro das resinas ganham uma distorção assustadora e os oratórios, inofensivos símbolos de fé, ganham outros sentidos. São esses dois elementos – oratórios e objetos com resina – que compõem a maior parte da exposição que já esteve em cartaz nos centros culturais do Banco do Brasil em São Paulo e no Rio de Janeiro.

"É uma obra fácil, que lida com assuntos comuns a todos, família, sexualidade, opressão. Acho que Farnese foi muito generoso. É só olhar, nem precisa entender. E as crianças adoram. Os adultos é que ficam incomodados, por isso coloco os objetos numa altura mais baixa", diz.

Ao exercitar seu lado curador, Cosac – mais conhecido como editor da CosacNaif, voltada, também, a livros de arte, entre os quais um sobre Farnese, de 2002 – está trabalhando para trazer de volta a memória do premiado artista, que apesar de uma extensa lista de premiações e exposições, caiu no esquecimento.

"São 20 anos em obras. Mapeei os objetos, não quis pegar os bi e tridimensionais, porque seria muita coisa, pois ele nunca deixou de desenhar e fazer gravuras. Mas as assemblages foram a grande alegria dele", explica Cosac, que foi amigo próximo do artista em seus dois últimos anos de vida. Segundo o editor, não é possível organizar em ordem cronológica as obras, pois Farnese ia e voltava nas suas criações. "Nas fotos, nota-se a cabeça de uma boneca em várias obras, que só eram terminadas quando eram vendidas. Se estivessem na mão dele, seriam mexidas", conta.

O colecionador

Nas salas em frente do MON, outra exposição abre hoje. O curador Emanuel Araújo organiza a arrumação das mais de 450 obras do acervo de Odorico Tavares, que segue, como o nome sugere, "o olhar do colecionador mais do que do curador". "Não quis interferir nessa visão e mantive as peças como estavam na casa dele. Daí, também, o título da mostra", explica Araújo, completando que a exposição não é didática, por isso não se prende a uma cronologia precisa. "É o colecionador nos seus desejos mais íntimos".

O curador nota um viés eclético. "A coleção de Odorico mostra esse olhar, sem diferenciar escolas ou processos criativos, mas que amarra com sensibilidade o vigor da arte brasileira, desde a imaginária barroca baiana até a arte modernista, por meio dos nomes mais emblemáticos da área. Depois, ele também estendeu seu olhar atento para Picasso, Braque, Miró e outros", diz.

A exposição apresenta ainda gravuras e cartas nas quais Tavares fala sobre as obras que adquiriu de artistas que se tornaram seus amigos. Também amigo do colecionador, Araújo sentiu-se mais livre para fazer a curadoria. "Fui íntimo e sei como as coisas estavam dispostas na casa dele e, por isso, também há um olhar afetivo, embora seja, basicamente, o olhar dele que virou a sua obra. Também estou incluído nela e é com esta liberdade, de ter sido incluído por ele, que estou fazendo este trabalho dessa forma", diz. Tavares lançou ainda um livro, Meus Poemas e Meus Pintores, no qual mostra a relação próxima que manteve com os criadores.

Serviço: Farnese e Odorico Tavares: A Minha Casa Baiana – Sonhos e Desejos de Um Colecionador de Arte. Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999). Abertura para visitação amanhã, a partir das 10 horas. De terça a domingo, das 10 às 18 horas. Ingressos a R$ 4 e R$ 2.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]