Na palma aberta da mão esquerda, Shigenobu Yoshida borrifa uma solução de álcool e água. Ele desliza a mão suavemente, da testa para a nuca, nos cabelos grisalhos do aposentado Aloísio Neves, cliente desde a década de 1960.
Em um movimento simultâneo e coordenado, estica os fios com uma escova de plástico, usadas em limpezas sanitárias. O resultado é um cabelo meticulosamente bem assentado, fio por fio, que agrada o cliente após a checagem no espelho retrovisor. Shigenobu, ou Antônio, como o chamam clientes e vizinhos é, aos 80 anos, o decano dos barbeiros da cidade. É titular do primeiro box que se vê ao entrar no prédio antigo do Mercado Municipal pela Avenida Sete de Setembro. Ele chegou em Curitiba em agosto de 1959, um ano após o mercado ter sido inaugurado. “Isto era um banhado, longe da cidade. A turma dizia que era loucura vir para cá”, lembra.
Shigenobu trabalha seis dias por semana e, quando há movimento, faz vinte cortes por dia. Mas sente que está chegando a hora de pendurar a navalha. “Minhas pernas estão doendo, vou parar ainda este ano. Acho que já deu, né?”.