São Paulo (Folhapress) Não é aleatória a foto da capa de Bicho Solto, que mostra Carlos Frederico SantAnna Pinheiro com 11 anos. Foi naquele verão de 1975 que começou "o mergulho de um menino do Rio no mundo das drogas", como diz o subtítulo do livro derivado de seus depoimentos ao escritor Ivan SantAnna, seu tio.
Fred Pinheiro experimentou maconha aos 11, cocaína aos 12, cocaína injetada na veia, LSD, chá de cogumelo e o que mais aparecesse a partir dos 13. Nessa idade, já assaltava para sustentar seu vício, além de roubar jóias da mãe e dinheiro do pai, um casal de classe média bem alta de Ipanema (zona sul do Rio).
Hoje, Pinheiro tem 41, está há 20 sem consumir drogas ilegais ("Fumo dois maços de cigarro por dia, porque não sou candidato a santo") e é um sobrevivente de si mesmo. Em 2004, resolveu relatar o que passou entre 1975 e 1985, mas não com as próprias mãos.
"Minha família já é cheia de escritores, não precisava de mais um", brinca ele, sobrinho de Ivan e Sérgio, primo de André, filho de Sônia, todos autores da marca SantAnna. "Achei que ainda estava perto o bastante e distante o suficiente para contar essa história."
Ivan SantAnna diz ter aceitado imediatamente o convite de Pinheiro. Acompanhara de perto toda a saga autodestrutiva e tinha uma curiosa dívida de gratidão com o sobrinho. "Depois que parou com as drogas, Fred me indicou o seu médico, que me ajudou a sair do alcoolismo", conta o autor de Rapina e Caixa Preta.
Antes de parar, Pinheiro passara por uma série de clínicas, hospícios que não ousavam dizer o seu nome para não assustar as famílias ricas. O livro tem relatos muito fortes de situações vividas durante suas internações.
"Na época, um drogado era visto como bandido ou maluco, não como alguém que precisa de ajuda. Como eu era menor, cumpri minha pena em hospícios", ironiza ele, que foi detido pela polícia várias vezes na adolescência.
Bicho Solto é narrado em primeira pessoa, resultado da edição que SantAnna fez das 14 horas de entrevistas com Pinheiro. Os dois tiveram o cuidado de trocar vários nomes reais por fictícios para proteger as pessoas.
Pinheiro ainda evitou qualquer pieguice em seus relatos. "Não quero dar lição a ninguém, não me arrependo de nada, não procuro culpados. Fiz tudo porque queria fazer e paguei o preço por isso", simplifica ele.
De certa forma, ainda paga um preço. Tem seqüelas no fígado e no coração do uso excessivo de drogas e diz não poder se livrar de um estigma por ter sido, no passado, o "Fredinho do Pó". "Sei que, se eu der qualquer escorregada, vão dizer: Ah, não podia ser diferente mesmo", afirma.
Ele só estudou até a antiga quinta série do primeiro grau, mas conseguiu trabalhar como artista plástico, fotógrafo e joalheiro. Possui uma joalheria em Búzios (RJ), onde mora com a segunda mulher. No final de Bicho Solto, pôs um e-mail para contato.
"Não tenho a menor ambição de me tornar consultor de nada, mas, se eu puder ajudar as pessoas em algo, vou tentar", diz.
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