• Carregando...

Num artigo publicado pelo jornal The Boston Globe, a crítica Maureen Dezell fala sobre como "os leitores atuais anseiam pela narrativa convincente, pelo realismo e pelo clima dramático que o escritor Charles Dickens inspirava no século 19". E acredita que hoje, é o livro de memórias, não de ficção, que atende a tais anseios.

Ela afirma que os leitores de hoje desejam histórias reais – convincentes –, mas não identifica quais são as características de um texto "convincente". Para o escritor E. M. Forster, autor de Aspectos do Romance, "a informação é verdadeira se é acurada".

O interesse pelo que Dezell chamou de "narrativa convincente" e Forster, de "informação acurada" é uma das qualidades essenciais a qualquer obra literária que se preze. No caso dos relatos autobiográficos, elas são acentuadas pelas características do gênero, entre elas, está o narrador em primeira pessoa.

Na ficção, ele é tão antigo quanto o próprio romance e representa um recurso bastante comum com que o autor procura dar veracidade à narrativa. De Daniel Defoe até Edgar Allan Poe, escritores tentam se esconder atrás de seus personagens, muitas vezes assumem o papel de editores e dão status de escritor a figuras fictícias como Robinson Crusoé e Arthur Gordon Pym. Além de tentar confundir o leitor, tais expedientes procuram acentuar a verossimilhança do que é narrado.

Poe, ao dizer que O Relato de A. Gordon Pym era o manuscrito de um homem que existiu de fato, com certeza, impressionou mais do que se o assumisse como um romance de figuras fictícias.

Há ainda autores que escreveram romances com referências autobiográficas (Henry Miller, em Trópico de Câncer), prática que se tornou freqüente depois da Segunda Guerra Mundial, sobretudo em movimentos como o nouveau roman, no qual despontou Marguerite Duras, de O Amante. Artistas passaram a abordar temas ligados ao ato de escrever, criando narradores ou protagonistas escritores. Eles partiam de experiências pessoais para criar histórias fictícias – era o "romance como autobiografia".

Além do nouveau roman, na França, houve o new journalism nos EUA, que revelou Tom Wolfe, Truman Capote e Joseph Mitchell. De acordo com os preceitos do novo jornalismo, o escritor poderia aparecer como personagem de seus livros-reportagens, fossem eles sobre o assassinato de uma família no Kansas ou o perfil de um mendigo excêntrico de Manhattan.

Veja também
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]