No início da década de 1990, uma leva de imigrantes judeus russos desembarcava diariamente nas estações de trem de Berlim Oriental. A força que os atraía era um boato que circulava em Moscou: como uma espécie de compensação pelo fato de não ter "casado" a sua parte na reparação de guerra para Israel, o governo da Alemanha Oriental recebia de braços abertos judeus de outros Estados europeus.
Uma multidão de russos (e de países vizinhos da cortina de ferro) que em seus locais de origem omitiam a descendência, partiram para Alemanha levando, em geral, apenas o registro étnico do passaporte.
Entre as famílias que se aventuraram estava a de Wladimir Kaminer. À época com 22 anos, o ex-estudante de teatro em Moscou era mais um jovem russo que não sabia exatamente o que o esperava e o que ele poderia fazer no país que escolheu como novo lar.
Um país que em pouco tempo deixou de existir alguns meses após sua chegada, o muro de Berlim foi derrubado e a Europa mudou de cara e de nome. A história de seus primeiros dez anos no novo território, circulando no submundo da ilegalidade ao lado da comunidade de imigrantes russos, turcos, vietnamitas e outras etnias na Alemanha pós-Guerra Fria até os dias de hoje está em Balada Russa que chega ao Brasil pela editora Globo.
Livro de estreia do autor, lançado originalmente no ano 2000, e que chegou a encabeçar as listas de mais vendidos na Alemanha e serviu de argumento para o roteiro do filme Russendisko, dirigido por Oliver Ziegenbalg em 2012.
Os textos que misturam memória do autor e ficção são chamados de contos pela editora na falta de uma palavra melhor, já que muitos têm, na verdade, a estrutura, o formato, o temperamento e a leveza da boa e velha crônica brasileira .
Kaminer descreve com linguagem cotidiana, enxuta e em tom de ironia permanente, próprio dos bons escritores russos, situações pitorescas e grandes roubadas em que ele e os demais exilados se envolvem tentando sobreviver em Berlim.
Falando de momentos de sua vida ou de amigos e parentes, as crônicas algumas impagavelmente engraçadas falam da difícil adaptação dos rudes costumes soviéticos ao sofisticado capitalismo alemão.
No painel vivo que criou, aparecem personagens inacreditáveis em situações pitorescas: atrizes que se viram como atendentes de telesexo, uma babá que vende o corpo para pesquisas científicas, as singulares noivas russas e os pequenos escroques e mafiosos.
A cidade também é um personagem importante, e o livro mostra como ela foi se transformando de uma metrópole formal e envergonhada, na mais cosmopolita, aberta e multicultural capital da Europa.
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