Kaminer: crônica dos costumes russos na Berlim cosmopolita| Foto: Imagens: Divulgação
Crônicas - Balada Russa - Wladimir Kaminer. Tradução de Claudia Abeling, Globo, 176 págs., R$ 34

No início da década de 1990, uma leva de imigrantes judeus russos desembarcava diariamente nas estações de trem de Berlim Oriental. A força que os atraía era um boato que circulava em Moscou: como uma espécie de compensação pelo fato de não ter "casado" a sua parte na reparação de guerra para Israel, o governo da Alemanha Oriental recebia de braços abertos judeus de outros Estados europeus.

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Uma multidão de russos (e de países vizinhos da cortina de ferro) que em seus locais de origem omitiam a descendência, partiram para Alemanha levando, em geral, apenas o registro étnico do passaporte.

Entre as famílias que se aventuraram estava a de Wladimir Kaminer. À época com 22 anos, o ex-estudante de teatro em Moscou era mais um jovem russo que não sabia exatamente o que o esperava e o que ele poderia fazer no país que escolheu como novo lar.

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Um país que em pouco tempo deixou de existir – alguns meses após sua chegada, o muro de Berlim foi derrubado e a Europa mudou de cara e de nome. A história de seus primeiros dez anos no novo território, circulando no submundo da ilegalidade ao lado da comunidade de imigrantes russos, turcos, vietnamitas e outras etnias na Alemanha pós-Guerra Fria até os dias de hoje está em Balada Russa que chega ao Brasil pela editora Globo.

Livro de estreia do autor, lançado originalmente no ano 2000, e que chegou a encabeçar as listas de mais vendidos na Alemanha e serviu de argumento para o roteiro do filme Russendisko, dirigido por Oliver Ziegenbalg em 2012.

Os textos que misturam memória do autor e ficção são chamados de contos pela editora na falta de uma palavra melhor, já que muitos têm, na verdade, a estrutura, o formato, o temperamento e a leveza da boa e velha crônica brasileira .

Kaminer descreve com linguagem cotidiana, enxuta e em tom de ironia permanente, próprio dos bons escritores russos, situações pitorescas e grandes roubadas em que ele e os demais exilados se envolvem tentando sobreviver em Berlim.

Falando de momentos de sua vida ou de amigos e parentes, as crônicas – algumas impagavelmente engraçadas – falam da difícil adaptação dos rudes costumes soviéticos ao sofisticado capitalismo alemão.

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No painel vivo que criou, aparecem personagens inacreditáveis em situações pitorescas: atrizes que se viram como atendentes de telesexo, uma babá que vende o corpo para pesquisas científicas, as singulares noivas russas e os pequenos escroques e mafiosos.

A cidade também é um personagem importante, e o livro mostra como ela foi se transformando de uma metrópole formal e envergonhada, na mais cosmopolita, aberta e multicultural capital da Europa.