Enquanto Desvio tem cinco mulheres em cena e um solista homem, priorizando o trabalho em conjunto...| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
...Predicativo do Sujeito traz sete homens e uma mulher: energia e fragilidade

Depois de montar, em 2012, uma versão de grandes proporções para A Sagração da Primavera, um dos destaques do Festival de Joinville no mês passado, o Balé Teatro Guaíra (BTG) agora investe em coreografias menores que permitam excursionar com mais facilidade. Hoje à tarde, no Museu Oscar Niemeyer, o grupo reapresenta os trabalhos Encontro e Visita Guiada, que dialogam com o espaço museológico e convidam, literalmente, o espectador a participar.

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E vem coisa nova aí. Na próxima quinta-feira, 8, o corpo de baile estreia dois novos balés, igualmente calcados na dança contemporânea.

Desvio, do gaúcho Airton Rodrigues, foi construído em conjunto com os bailarinos ao longo de três meses. Ao som de uma trilha que transita do techno ao hip-hop, criação do bailarino especializado em danças urbanas Thiago Ramalho, cinco mulheres e um solista masculino formam estruturas no palco, fruto de uma pesquisa sobre caminhos que privilegia o toque e o trabalho em grupo. "Caminhar, dobrar, parar, correr. Eu estabeleci uma regra e eles foram desviando dela", conta Airton, que dança há 12 anos na companhia e já criou outros dois trabalhos para o BTG, Pulse e Sharbat.

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Os figurinos, desenvolvidos sob encomenda do balé por Gelson Amaral, podem ser vistos na foto acima num ensaio acompanhado pela reportagem, mas, no palco, trarão uma surpresa graças ao trabalho de iluminação (de Cleverson Cavalheiro e Judite Fiorese). Os solistas são Carlos Matos e Leandro Vieira, cada um dançando em dois dos quatro dias, vestindo calça e paletó. As bailarinas também se dividem em dois elencos.

Machos alfa em cena

Predicativo do Sujeito é uma coreografia do paulista Alex Soares criada originalmente para o grupo Divinadança, no ano passado. A convite do BTG, ele trouxe sua obra para adaptá-la junto com um elenco de sete homens e a solista Patrícia Machado, numa experiência que alia a energia de um conjunto masculino à fragilidade persistente do feminino.

A abertura, com todos sentados no chão simulando uma brincadeira de crianças, em meio à fumaça de cigarros, provavelmente será incluída pelo público entre os melhores momentos já vistos na dança.

O clima de competição/interação se mantém ao longo de todo o espetáculo, que termina ao som do conhecido bolero de Maurice Ravel. Em meio à trilha, o artista inseriu o som de "mensagem recebida" do Facebook.

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Todo o conjunto, com o figurino excelente e a boa integração e atuação dos bailarinos provoca identificações instantâneas. O uso de um texto ao vivo, falado ao microfone por um dos bailarinos, aproxima o espetáculo da dança-teatro e atualiza o repertório do BTG, numa grata abertura ao novo.

Predicativo, conforme o dicionário, é aquilo que se declara a respeito do sujeito. E o sujeito de que fala o título é, basicamente, o universo masculino. A peça retrata um homem em dificuldade de conexão com sua sensibilidade, um verdadeiro "macho alfa".

Por isso, o texto ao vivo traz depoimentos, desses encontrados na internet mesmo, sobre relacionamento – mas com voz distorcida, como numa reportagem de denúncia na televisão. "A solista representa tudo isso que o homem rejeita", explica Alex, que procurou expurgar nesse trabalho um pouco do preconceito que sofreu quando começou a dançar.