Serviço
O Mais Feliz da Vida
A Banda Mais Bonita da Cidade. Tratore (distribuição). U$ 8,99 (no iTunes). Download gratuito em www.abandamaisbonitadacidade.art.br. Pop.
Os rostos que estampam a identidade visual de O Mais Feliz da Vida, o segundo disco de estúdio da Banda Mais Bonita da Cidade, são dos pais de seus integrantes na sequência da foto acima, de Rodrigo Lemos, Vinícius Nisi, Uyara Torrente, Diego Plaça (que deixou a banda no mês passado) e Luís Bourscheidt. Para a capa, foi feito um retrato de uma senhora que a banda conheceu no asilo Recanto do Tarumã durante um show promovido pela campanha Política Cidadã, da Gazeta do Povo.
São referências ao curso da vida conceito que conduz, à Pink Floyd, as onze canções do álbum lançado ontem na internet e disponível para download gratuito. Na visão da banda, o disco segue, contínuo, uma narrativa de temas que vão se tornando mais complexos até chegar a questões de finitude ("Um Cão sem Asas", estreia de Uyara como compositora) e redenção ("Reza para um Querubim").
Mas a homenagem também funciona em alguma medida como metáfora da trajetória atípica da banda. Impulsionado pela enorme repercussão de "Oração", em 2011, o grupo ganhou um volume grande de experiências: circulou, fez novas amizades artísticas e avançou em suas ideias musicais, amadurecimento que naturalmente sustenta o novo trabalho. Tudo evoluiu: timbres, arranjos, interpretação (notavelmente a de Uyara Torrente).
"Acho que todo mundo que faz muito alguma coisa acaba pensando mais no que está fazendo", diz Nisi, tecladista e produtor do novo álbum. "Estamos crescendo, como qualquer outro artista", minimiza.
As diferenças também remetem à forma como os dois trabalhos foram gravados. O disco de estreia do grupo foi gravado sob certa pressão, em uma tentativa de aproveitar a repercussão de "Oração".
"Gravamos com pouca experiência de estúdio, meio ao vivo, com o que tínhamos. Neste, pensamos nas sonoridades que o estúdio possibilita", conta Nisi, que diz ter havido diferenças também na construção dos arranjos.
"No primeiro disco, não concebemos tanto a forma. Era um repertório que fomos construindo por dois anos, totalmente sem pretensões. Desta vez, fizemos pensando em conceber um disco como um todo", conta o músico.
Apesar da carga trazida pelas imagens, pelo conceito e pelo peso das letras novamente marca na escolha do repertório, selecionado a partir de sugestões da vocalista o disco aponta para o pop, como na faixa-título, produzida por Chico Neves (Lenine, Os Paralamas do Sucesso, O Rappa e Los Hermanos). Com uma sonoridade mais bem-resolvida, a banda faz o conceitual soar despretensioso; o denso, solar.
"O disco como uma obra concebida, em que as faixas não estão dispostas aleatoriamente, é uma coisa que se perdeu ao longo do tempo. A gente sente falta disso nos álbuns recentes", explica Nisi. "Levamos quase um ano para chegar a algum lugar que a gente gostasse." GGG1/2