Arte de Banksy feita na porta de entrada do Hustler Club, em Nova York, em outubro deste ano: subversão e inteligência| Foto: Carlo Allegri/Reuters

Biografia

Banksy – Por Trás das ParedesWill Ellsworth-Jones. Tradução de Ivan Justen Santana. Nossa Cultura, 352 págs., R$ 45.

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The Drinker, a primeira escultura de Banksy, feita em 2003, chegou a ser roubada das ruas de Londres
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Os grafites do artista britânico Banksy, espalhados por Londres, rendem até organização de excursões pela cidade e publicações de livros-guia para que turistas e curiosos identifiquem seus desenhos. Pode-se dizer que o artista é um paradoxo: é crítico ferrenho do capitalismo, mas seus trabalhos alcançam cifras consideráveis em leilões. Luta veementemente para permanecer anônimo, mas já figurou em listas de pessoas mais influentes do mundo. A exposição Banksy versus Bristol Museum, realizada em 2009, na cidade natal do artista, teve filas diárias de três horas para visitação durante três meses consecutivos.

As motivações do artista e os caminhos que o levaram a se tornar o que é hoje são alguns assuntos da biografia Banksy – por Trás das Paredes, lançada pela editora Nossa Cultura. O retrato é totalmente "não autorizado", contou o autor Will Ellsworth-Jones em entrevista por e-mail à Gazeta do Povo.

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Jones foi repórter-chefe e correspondente em Nova York do jornal The Sunday Times e trabalhou como editor de revistas como Telegraph e Independent. Antes de escrever sobre o artista – ele levou dois anos entre a pesquisa e redação da biografia – Jones era um mero admirador de Banksy, e o trabalho surgiu a convite de sua editora (a St. Martin’s Press). confira os principais trechos da entrevista:

Como aconteceu a sua primeira aproximação com o trabalho de Banksy e qual foi o elemento que mais chamou sua atenção?

Foi um belo Banksy na parede de uma farmácia perto de onde vivemos, em Londres. O que me fascinou foi como ele usou a parede: ele virou um cabo de eletricidade grosso, subindo-o em um mastro de bandeira, e pintou um saco de supermercado na parte de cima. Em seguida, ele pintou crianças saudando a bandeira do comércio. Mais tarde, fez uma pintura sobre tela que Jerry Hall, ex-mulher de Mick Jagger, vendeu por mais de 82 mil euros em 2010. Então, quando meu editor me pediu para escrever um livro sobre Banksy, eu estava muito interessado, mesmo não sabendo muito sobre ele.

E como surgiu a ideia da biografia?

No início de 2010 meu editor teve a ideia de que eu seria uma boa pessoa para escrever um livro sobre Banksy. Meu livro anterior (Not Fight, não lançado no Brasil), tinha sido sobre pessoas que se recusaram a lutar na Primeira Guerra Mundial – então, eu não vejo muita ligação! Mas eu já gostava do que eu tinha visto do trabalho de Banksy, e pensei que seria fascinante saber mais sobre ele. E foi.

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No começo do livro você descreve uma cena de Banksy na famosa galeria Tate Modern, em Londres. Você teve algum contato com ele?

Eu não tive nenhum contato com o artista. Essa cena eu pesquisei a partir de vídeos, fotografias, artigos de jornais e revistas e visitas à Tate, para colocar tudo no contexto. Cheguei a conversar com o relações públicas do Banksy, mas ele mesmo nunca quis conversar comigo, e creio que nunca conversará.

Na sua opinião, qual é a característica mais marcante de Banksy?

Ele é subversivo, tem inteligência e uma grande capacidade com um spray e um estêncil, e ele tem coragem. Seu talento está em expansão. Antes, costumava estar só nas paredes, mas agora ele faz filmes (seu documentário Exit Through the Gift Shop foi indicado ao Oscar), e uma série de outras coisas.

Mesmo com a crescente valorização da arte urbana, fato que também temos visto no Brasil, ela é vista, frequentemente, como vandalismo. No começo, o trabalho de Banksy também era enxergado dessa forma. Porém, hoje ele é considerado uma espécie de tesouro. Como essa mudança aconteceu?

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Geralmente, o estilo antigo do grafite, em paredes e trens, não é compreendido, e muitas pessoas enxergam isso como arruinar a paisagem urbana, não entendem o que está por trás do desenho. Mas Banksy é mais acessível: o outsider que não sabe nada sobre arte pode apreciá-la imediatamente, e aproveitar tanto que ninguém vai querer o desenho apagado. Então, hoje é certo que ele é uma espécie de tesouro, e os conselhos locais são cautelosos sobre a pintura dele, porque ele se estende muito além da comunidade de arte de rua.

A sua biografia é não autorizada. Aproveitando a oportunidade, gostaria de lhe perguntar sobre um debate que vem acontecendo no Brasil. Aqui, têm ocorrido discordâncias sobre biografias, porque muitos artistas não concordam que elas sejam escritas sem autorização prévia. O que você acha?

Eu acho que os escritores devem ter a liberdade para escrever o que quiserem, dentro das leis de difamação. Se tivesse ido até Banksy, esta biografia não teria sido escrita. Se eu quiser escrever um livro sobre o nosso primeiro-ministro, eu devo poder fazer isso. E se eu difamá-lo, ele pode me processar.