O confronto entre a polícia militar do Paraná e os professores da rede estadual de ensino, que ficou conhecido como a “Batalha do Centro Cívico”, completa um ano nesta sexta-feira (29). Além de ampla repercussão na sociedade, o ocorrido gerou manifestações também da classe artística. Conheça algumas das bandas da capital paranaense que fizeram referência ao episódio, alem de também tratar de outros questionamentos de ordem política e social:
Relespública - Impeachment
O rock dançante da Reles é esporadicamente temperado com uma acidez irônica bem ao estilo curitibano. Músicas como “Homem-Bomba” e “Notícias” possuem uma verve mais questionadora, porém em doses homeopáticas. Mas é em “Impeachment” que Fábio Elias e sua trupe resolvem pesar a mão e assumir um posicionamento bastante claro e literal a favor dos professores. Movido pela indignação, Elias afirma que “como compositor” não pôde deixar incólume o que considerou uma “violência contra o povo”. Alerta ainda para a importância do envolvimento popular nas questões relativas à esfera pública quando diz que “o povo é mais forte que todos os governos e todos os partidos”.
Chico Balboa – Gritos de Salete
Os momentos tensos vividos na Praça Nossa Senhora de Salete naquele fatídico 29 de abril ganham contornos poéticos (mas nem por isso menos indignantes) na voz de Caco Flores. Formada em 2012 – mas com as raízes fincadas no rock dos anos 80 – a banda trouxe para “Gritos de Salete” uma atmosfera metafórica densa e um olhar cirúrgico por sobre o teatro do absurdo, com o objetivo de “trazer às novas gerações o questionamento, a importância de conhecer melhor os políticos, de ir em busca de propostas claras’.
Machete Bomb – Temporada de Caça
Do caldeirão onde fervilham rock, samba, rap (e um caos milimetricamente orquestrado), os estilhaços sonoros buscam dimensões mais amplas. Toda essa sonoridade sincrética inspira letras que versam sobre os pilares políticos, religiosos e econômicos da sociedade. Vitor Salmazo, vocalista, destaca que “tudo isso é feito para as pessoas se aquietarem”, que instituições como a polícia, por exemplo, muitas vezes “não estão a serviço da dignidade humana, mas sim da manutenção do Estado” e que, por isso, “antes de ser engajado, o mais importante é ser crítico”.
Colaterall – Rinha
A banda é descendente direta do Sugar Kane e, como eles, já nasceu de sangue quente. O guitarrista Vini Zampieri reflete que a música, antes de mais nada, é “um desabafo, uma maneira de se expressar, uma vez que a situação do Brasil bate na cara da gente”. As letras de protesto garantem a identificação com o público, que também procura ter voz. Vini se declara um defensor da educação. Em suas palavras: “se o povo for educado, qualquer sistema de governo funciona”.
Mercy Killing - Down the Power
A banda de Thrash Metal nasceu na Salvador, em 1988, mas escolheu os palcos de Curitiba para espalhar suas sementes. Desde os primeiros tempos apresentou uma postura altamente politizada, influenciada pela proximidade do memento histórico da redemocratização durante a formação. Já em Curitiba, Leonardo Barzi, membro fundador, acompanha o cenário político atual com descrédito: “o ambiente desmotiva, hoje há uma luta para a troca de poder mas não há diferença entre quem sai e quem fica”, reflete. Talvez por compartilhar esse sentimento com o público, os fãs encontrem muita identificação com as letras de protesto. “O metal e o rock sempre foram gêneros próximos dos excluídos.”
Darma Khaos - Unfaced
Dedicados à vertente do Nu Metal, a postura do questionamento é a mesma. Para o vocalista Lougas, “para entender a situação ao nosso redor precisamos olhar tanto para o indivíduo quanto para a sociedade como um todo”. Defende que o papel do cidadão seja mais participativo: “vivemos num país cheio de falhas, com um povo que não se interessa por política, é importante pontuar”. Essa visão fica expressa em muitas das letras da banda.
Hessex Alone - Caos
O caos também está presente no debut da banda Hessex Alone. Tão impactante quanto uma bomba psicodélica de reflexões sobrepostas a respeito da conflituosa natureza humana, a composição questiona de maneira altamente subjetiva e metafórica o controle que pensamos ter sobre tudo o que nos rodeia. “Hessex”, refletindo sobre o estado atual da sociedade, aponta que “o ser humano deixou de pensar em termos evolutivos, de agir em torno da coletividade para assumir um posicionamento autocentrado e egoísta” e que sua música é “uma espécie de resgate desse instinto natural de percepção plural da sociedade”.
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