Patrono do samba do Paraná, Maé da Cuíca estava compondo, no conforto da sua casa, quando a reportagem o interrompeu. "Está ficando mais ou menos assim", disse o senhor de 83 anos, antes de emendar com voz sussurrada. "Vai, vai, saudade. Meu bandolim, por favor, deixa-me viver em paz. Vai, vai, saudade. Me abandone de uma vez e não volte nunca mais."
Maé é autor do primeiro samba-enredo composto na cidade e criador de diversas canções que agitaram a antiga Vila Tassi, hoje parte do Prado Velho, lá no fim da década de 1930. O sambista responsável por difundir o gênero no Paraná terá um encontro, a partir de amanhã, com outros músicos e intérpretes que agora defendem o samba "tipicamente curitibano". Tudo isso acontece durante o Festival Paranaense do Samba, evento que acontece até o próximo domingo (5), em dois palcos instalados no Largo da Ordem, no Centro Histórico. Todas as apresentações serão gratuitas.
"Tenho que marcar presença, é uma obrigação. Fui eu quem criei essa criança, que plantei essa semente. Agora tenho de estar por perto", diz Maé. "Parece que a coisa está querendo pegar outra vez". Já pegou, na verdade.
Vinte e quatro grupos (cerca de 200 artistas) estão escalados para mostrar, ao vivo, o samba produzido na Paraná. Essa é a terceira edição do festival, que conta com o apoio da Fundação Cultural de Curitiba, e a primeira em que os artistas irão se apresentar as outras eram basicamente encontros e debates sobre o gênero. "São grupos de todas as vertentes. Do samba rural ao de terreiro, do samba-rock ao de gafieira", diz Adegmar Candiero, um dos organizadores do Festival e também presidente do Centro Cultural Humaitá. Mãe Orminda, do Grupo Divina Luz, é uma das figuras de destaque. Ela foi uma das primeiras puxadoras de samba do Brasil, quando esteve à frente da Escola de Samba Dom Pedro II, em 1978.
No sangue
Para Candiero, a quantidade e, principalmente, a qualidade do samba feito no Paraná são constantes há pelo menos 80 anos. "Basta conversar com as pessoas por aí. Não temos dificuldades em achar quem é do samba", diz o organizador, que sugere uma ideia interessante. "Fazer samba não é um privilégio geográfico. Ele está no sangue, não importa onde o artista nasça ou esteja. O que sentimos e a maneira como extravasamos isso não é diferente do samba carioca, por exemplo", conta Candiero, nascido em Goioerê, interior do Estado, mas radicado em Curitiba.
Outra prova de que o samba está em alta na terra das araucárias foi o que alcançou a música "Pelo Amor de Deus", composta pelos curitibanos Cláudio Peba, Nego Chandi e Fábio Pires. Ela chegou até a a semifinal do 3.º Concurso de Samba de Quadra, evento de caráter nacional Monarco e Noca da Portela estavam no páreo promovido pela empresa de eletricidade Light (RJ).
"Os compositores daqui estão em pé de igualdade e não devem absolutamente nada aos outros. Então, espero que Curitiba vire a capital do samba nesses quatro dias", arremata Candiero.
Serviço:Festival do Samba Paranaense. De 2 a 5 de dezembro. Largo da Ordem Palcos Ruínas e Bebedouro. Entrada franca.
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