Cortejo de afoxé que passou pela Praça Tiradentes, durante o festival em 2009| Foto: Divulgação
Maé da Cuíca: música nova aos 83 anos
Confira alguns destaques do festival, que segue com programação até domingo

Patrono do samba do Paraná, Maé da Cuíca estava compondo, no conforto da sua casa, quando a reportagem o interrompeu. "Está ficando mais ou menos assim", disse o senhor de 83 anos, antes de emendar com voz sussurrada. "Vai, vai, saudade. Meu bandolim, por favor, deixa-me viver em paz. Vai, vai, saudade. Me abandone de uma vez e não volte nunca mais."

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Maé é autor do primeiro samba-enredo composto na cidade e criador de diversas canções que agitaram a antiga Vila Tassi, hoje parte do Prado Velho, lá no fim da década de 1930. O sambista responsável por difundir o gênero no Paraná terá um encontro, a partir de amanhã, com outros músicos e intérpretes que agora defendem o samba "tipicamente curitibano". Tudo isso acontece durante o Festival Pa­­ra­­naense do Samba, evento que acontece até o próximo domingo (5), em dois palcos instalados no Largo da Ordem, no Centro Histórico. Todas as apresentações serão gratuitas.

"Tenho que marcar presença, é uma obrigação. Fui eu quem criei essa criança, que plantei essa se­­mente. Agora tenho de estar por perto", diz Maé. "Parece que a coisa está querendo pegar outra vez". Já pegou, na verdade.

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Vinte e quatro grupos (cerca de 200 artistas) estão escalados para mostrar, ao vivo, o samba produzido na Paraná. Essa é a terceira edição do festival, que conta com o apoio da Fundação Cultural de Curitiba, e a primeira em que os artistas irão se apresentar – as outras eram basicamente encontros e debates sobre o gênero. "São grupos de todas as vertentes. Do samba rural ao de terreiro, do samba-rock ao de gafieira", diz Adegmar Candiero, um dos organizadores do Festival e também presidente do Centro Cultural Humaitá. Mãe Orminda, do Grupo Divina Luz, é uma das figuras de destaque. Ela foi uma das primeiras puxadoras de samba do Brasil, quando esteve à frente da Escola de Samba Dom Pedro II, em 1978.

No sangue

Para Candiero, a quantidade e, prin­­cipalmente, a qualidade do samba feito no Paraná são constantes há pelo menos 80 anos. "Basta conversar com as pessoas por aí. Não temos dificuldades em achar quem é do samba", diz o or­­ganizador, que sugere uma ideia interessante. "Fazer samba não é um privilégio geográfico. Ele está no sangue, não importa onde o artista nasça ou esteja. O que sentimos e a maneira como extravasamos isso não é diferente do samba carioca, por exemplo", conta Candiero, nascido em Goioerê, in­­terior do Estado, mas radicado em Curitiba.

Outra prova de que o samba está em alta na terra das araucárias foi o que alcançou a música "Pelo Amor de Deus", composta pelos curitibanos Cláudio Peba, Nego Chandi e Fábio Pires. Ela chegou até a a semifinal do 3.º Concurso de Samba de Quadra, evento de ca­­ráter nacional – Monarco e Noca da Portela estavam no páreo – promovido pela empresa de eletricidade Light (RJ).

"Os compositores daqui estão em pé de igualdade e não devem absolutamente nada aos outros. Então, espero que Curitiba vire a capital do samba nesses quatro dias", arremata Candiero.

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Serviço:Festival do Samba Paranaense. De 2 a 5 de dezembro. Largo da Ordem – Palcos Ruínas e Bebedouro. Entrada franca.