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São Paulo - O Inominável começa cheio de dúvidas ("Onde agora? Quando agora? Quem agora? Sem me perguntar. Dizer eu. Sem pensar. Chamar isso de perguntas, hipóteses...") e termina de modo não muito menos enigmático ("...é preciso continuar, não posso continuar, vou continuar").

Entre um trecho e o outro, o último volume da trilogia do pós-guerra de Samuel Beckett, antecedido por Molloy e Malone Morre, dinamita de vez todas as convenções do romance: não há personagens, enredo, progressão temporal, ambiente, representação; apenas uma voz que fala, fala e fala, sabe-se lá de onde, sem nenhuma motivação.

Em um mundo que desmoronava, era, mais do que uma obra possível, uma obra urgente.

Irritado

Como diz João Adolfo Hansen no prefácio irritado desta nova edição do texto, não fazia sentido escrever uma história padrão, com heróis ou anti-heróis, em um "mundo em que a morte industrial de milhões foi continuação do que já se fazia na paz: a transformação de todas as relações humanas em cifras que tornam irrelevante a autonomia da experiência subjetiva".

Ali, a experiência modernista é levada ao extremo, a uma espécie de marco regulatório final, a partir do qual seria preciso retroceder se se quisesse continuar, como fazem quase todos os grandes escritores das últimas décadas (Thomas Bernhard, W.G. Sebald, Georges Perec e J.M. Coetzee).

Serviço

O Inominável, de Samuel Beckett. Globo, 208 págs., R$ 35.

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