O dramaturgo Henrik Ibsen (1828 1906) escreveu Uma Casa de Bonecas em 1879, a primeira de uma série de 11 peças escritas enquanto vivia em Roma. Elas fariam do norueguês um autor essencial ao teatro mundial, "pai da dramaturgia moderna" e expoente do realismo. Credenciais suficientes para apresentar Nossa Casa de Bonecas, que o Teatro de Narradores apresenta hoje, amanhã e domingo no Guairinha.
O núcleo de pesquisa organizado pelo grupo existe há sete anos. O interesse em Ibsen surgiu primeiro da pergunta "O que significa ser realista hoje?". "Ibsen é talvez um dos autores mais emblemáticos do realismo", afirma José Fernando Azevedo, diretor da peça. "Procuramos entender que tipo de nexo ainda há nessa forma."
Traduzida por Aderbal Freire Filho e Érik Schollhammer, a história fala de Nora (interpretada por Bárbara Araújo), uma jovem esposa e mãe que, frustrada pela relação com o marido, decide abandonar a família. Causou rebuliço. A defesa da protagonista como uma típica mãe vivendo na sociedade da época, feita por Ibsen, equivaleu a um tapa de luva (bem aplicado) nas faces de quem acreditava nos valores vitorianos da família. Hoje, 127 anos depois, a mulher experimentou o feminismo e conquistou autonomia. Nesse contexto, explica Azevedo, o espetáculo procura outros significados para o abandono da família engendrado por Nora. "Procuramos focar as relações dentro da peça, as afetividades às vezes baseadas no fetichismo", diz o diretor.
Considerado o segundo dramaturgo mais adaptado do mundo (precisa dizer quem é o primeiro? Shakespeare), Ibsen frustrou as expectativas de sua audiência no bom sentido. Num período em que escritores criavam peças que serviam a lições de moral, estreladas por protagonistas heróicos que combatiam forças obscuras, Ibsen adotou uma posição crítica, questionando as doutrinas e as condições de vida da era vitoriana. De acordo com o site oficial de Ibsen no Brasil (www.noruega.org.br/ibsen), suas 26 peças se dividem em temas nacionais-românticos e históricos (como Os Pretendentes, de 1863), dramas de idéias (entre eles, Peer Gynt, de 1867), contemporâneos realistas (Uma Casa de Bonecas é um deles), e psicológicos-simbólicos (O Pato Selvagem, de 1884).
Em alguma medida, o papel opressor antes desempenhado pela família dos moldes vitorianos, hoje, é função da sociedade de consumo. A escolha do texto de Ibsen permitiu ao grupo falar de experiências próprias, vividas em São Paulo aqui entra a "violenta atualidade" dos motivos de Nora, citada na apresentação da peça. A personagem de Ibsen confronta o fato de sua realidade não ter nada a ver com suas expectativas. E aqui reside a atualidade do texto norueguês: esse tipo de impasse faz parte da vida de todos e de qualquer um. Mulheres ou homens.
Serviço: Nossa Casa de Bonecas. Guairinha (R. XV de Novembro, s/n.º), (41) 3322-2628. Hoje, amanhã e domingo, às 20h30. R$ 24. Informações: www.festivaldeteatro.com.br.
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