São Paulo A Antologia Comentada da Poesia Brasileira do Século 21 (Publifolha, R$ 39,90; 384 págs.) encaminha duas respostas possíveis para a pergunta: e a poesia brasileira de hoje, como vai indo? A primeira é dada pelo painel de poemas de 70 poetas que estão produzindo ou produziram até há pouco; a segunda se faz sob a forma de um sucinto comentário crítico sobre a obra de cada um deles. Manuel da Costa Pinto assumiu a responsabilidade dupla da escolha e dos comentários, estabelecendo assim, de modo sistemático, um vínculo direto entre poesia e crítica. São tarefas difíceis e necessárias.
O painel de poetas, que cobre dos veteraníssimos aos novíssimos (e alguns que nos deixaram há pouco), abarca todas as tendências mais visíveis da poesia recente. A largueza do leque abre as opções, e cada poeta dá corpo à sua, com o seu dizer. Assim se vai fazendo a história, inclusive a da literatura -e não como o evidente equívoco de "um lançar o olhar sobre o passado imobilizado", que o antologista achou necessário recriminar. E que olhar lança ele sobre a poesia atual, vista de imediato "como um organismo vivo, em constante mutação, sujeito a avaliações no calor da hora, juízos provisórios e apostas"?
Critérios de análise
Por desconfiar de juízos provisórios ou improvisos críticos, Manuel da Costa Pinto estabeleceu critérios para aproximação e fixação do olhar em tão múltipla matéria. Assim é que apresenta e comenta os poetas localizando-os no espaço e/ou no tempo de sua geração, dando notícia sobre eventual filiação estética, dedu-zindo uma atitude existencial básica e, sobretudo, relevando os procedimentos formais que dão assinatura a cada um. Pois o antologista acredita ser hoje mais ou menos consensual a idéia de que "a poesia é um artefato, fruto de um labor textual cuja fatura nada tem a ver com inspiração ou estados de espírito iluminados". Aqui, discordo: da artesania verbal à expressão da poesia o caminho é longo, e eu nunca soube definir exatamente o que ocorre no meio ou depois do fim. Alguém sabe?
Descrição objetiva
O exercício do gosto artístico, sobretudo diante de tantos e tão diferentes poetas e poemas, costuma equilibrar-se no fio de navalha entre o arbítrio e o motivo. O autor da antologia submeteu-se a essa difícil prova, buscando descartar idiossincrasias e, na medida do possível, descrever de modo objetivo as qualidades de cada poeta, incluindo as tensões e a linha de alcance de sua linguagem pessoal. Muito oportunamente, Manuel da Costa Pinto apoiou-se, para comentar cada caso, em imagens ou construções dos poemas escolhidos, exercitando a leitura crítica em contato atento e estreito com o objeto. É o ponto forte dessa antologia. Como os poetas reunidos trazem consigo seja a obra já consagrada, seja a promissora iniciação, o exercício de uma relativamente democrática distribuição do espaço do livro fala muito da disciplina do antologista, visivelmente contido também nos juízos de valor.
A poesia oferecida incitará nos leitores as reações agudas ou distanciadas que o gosto da formação de cada um manifestará diante dos poemas e dos comentários. A mim me agradou particularmente a oportunidade de viajar por tantas e tão distintas vozes da poesia brasileira atual na companhia de um olhar crítico que se oferece, com coragem, à crítica do leitor.
O minério brasileiro que atraiu investimentos dos chineses e de Elon Musk
Desmonte da Lava Jato no STF favorece anulação de denúncia contra Bolsonaro
Fugiu da aula? Ao contrário do que disse Moraes, Brasil não foi colônia até 1822
Sem tempo e sem popularidade, governo Lula foca em ações visando as eleições de 2026
Deixe sua opinião