"O Brasil precisa ter uma linguagem acessível em sua produção acadêmica e em seus livros didáticos, para que o conhecimento produzido chegue à população, que é quem financia esses pesquisadores pelos impostos que paga."
Laurentino Gomes, escritor
Para Laurentino Gomes, a premiação de seu livro-reportagem histórico, 1822 sobre o processo de independência do Brasil com o troféu Jabuti de Livro do Ano na categoria não ficção, anunciado na noite da última quarta-feira, não deveria ser inesperada. O autor maringaense já havia vencido em 2008 na mesma categoria com seu primeiro livro, 1808, sobre a vinda da família real portuguesa para o Brasil no século 19. Mesmo assim, ele afirma que a premiação o pegou de surpresa. "Meu coração disparou quando anunciaram meu nome e eu achei que fosse ter um treco no meio da sala São Paulo. O maior prêmio para mim foi ter sobrevivido à premiação", conta rindo.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL), responsável pelo Jabuti, elegeu também Em Alguma Parte Alguma, do poeta Ferreira Gullar, na categoria ficção. Cada um recebeu um prêmio de R$ 30 mil.
Com a conquista vale lembrar que a obra já havia ganhado, conforme as normas da CBL, o troféu de melhor livro-reportagem 1822 é consagrado não só como um sucesso de público, mas também de crítica. "Se eu não ganhasse nenhum prêmio, falariam que eu sou mais um Paulo Coelho da vida e logo me esqueceriam. O Jabuti marca não só esse fenômeno importantíssimo que é o interesse do leitor brasileiro pela história do país, como também valida o livro perante a comunidade intelectual", diz, lembrando que a comissão julgadora do prêmio Livro do Ano é formada por representantes de diversos setores do mercado editorial, como editores e críticos literários.
Laurentino atribui o sucesso de seus livros em parte à linguagem acessível com que trata seus temas uma influência direta da sua formação jornalística. A impressionante vendagem de 1,2 milhão de exemplares de seus dois livros até o momento foi assunto de muita discussão. Porém, a resistência da academia científica à sua linguagem se inverteu: agora, o autor cobra clareza e objetividade dos pesquisadores. "O Brasil precisa ter uma linguagem acessível em sua produção acadêmica e em seus livros didáticos, para que o conhecimento produzido chegue à população, que é quem financia esses pesquisadores pelos impostos que paga", defende, e diz que já recebe o reconhecimento por parte de historiadores importantes, como o professor da Unesp Jean Marcel Carvalho França, que disse em entrevista à revista Cult que Laurentino "põe a história na pauta do dia".
Às vésperas de completar a ducentésima semana em várias listas de mais vendidos, com 1808, Laurentino parte no fim do ano para a Pensilvânia, onde fará pesquisas para seu próximo livro, 1889 título que remete ao ano da proclamação da República , na universidade Penn State. "Todos esses prêmios colocam uma pressão muito grande em cima do meu trabalho, mas penso que basta fazer o que eu já tenho feito."
Poesia
Antes de publicar Em Alguma Parte Alguma, Ferreira Gullar passou por um hiato de onze anos sem poesias inéditas. Ganhou o prêmio de melhor ficção do ano em 2008 pela coletânea de contos e crônicas Resmungos. "Não sei se poesia é literatura. A gente faz poesia porque a vida não basta", disse Gullar, em seu discurso de agradecimento, e completou: "Ser premiado é gratificante, porque o sentido da vida é o outro, e um prêmio mostra reconhecimento". O poeta competiu com o romance Ribamar, de José Castello, e a coletânea de contos Desgracida, de Dalton Trevisan, entre outros. Quando perguntado sobre se a premiação foi um incentivo para continuar, Gullar, de 81 anos, respondeu: "Incentivo não, porque nesta altura não dá para precisar de incentivo".
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