Rio de Janeiro – Bete Mendes deixará o hábito de Irmã Natércia, de Páginas da Vida, esta semana, para vestir as roupas também comportadas da avó que todo mundo queria ter: Dona Benta, do Sítio do Picapau Amarelo, papel eternizado na TV por Zilka Salaberry, falecida há dois anos, e, mais tarde, interpretado por Nicette Bruno e Suely Franco.

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Aos 58 anos, a atriz santista se diz feliz com o papel pequeno desempenhado na trama de Manoel Carlos e aberta para a entrada em cena da avó de Pedrinho e Narizinho. Ela lamenta, porém, a falta de papéis de protagonistas para atores mais velhos no horário nobre. "É um pouco mundial essa reclamação", diz Bete, em seu apartamento decorado com artesanato brasileiro, no Bairro Peixoto. "Acho que faltam autores que queiram escrever para a terceira idade. Na minha geração, por exemplo, tive o orgulho de contracenar com Paulo Gracindo (morto em 1995)", diz a atriz, que desempenhou papéis marcantes na TV, como a grã-fina decadente de Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso (Tupi, 1968), e a jovem Silvia, assassinada em O Rebu, do mesmo autor, trama considerada revolucionária na história da teledramaturgia.

Nicette Bruno, que entrou na terceira versão do Sítio, em 2001 (a atração foi ao ar pela primeira vez na Tupi, entre 1952 e 1963), diz que fazer um clássico da literatura infantil acrescenta à carreira de qualquer profissional. "Para mim, foi válido. E a Bete vai dar a sensibilidade necessária à personagem." Bete Mendes também se curva às histórias de Monteiro Lobato, que foram apresentadas pela Globo, de 1977 e 1986, na segunda versão televisiva. "Sem querer ser pretensiosa, vou tentar homenagear a Zilka Salaberry, que foi a querida Dona Benta por tantos anos. Também vai ser interessante trabalhar pela primeira vez, assim, neste horário que eu nunca fiz, para as crianças."

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Mas, o público infantil já caiu nas graças de Bete. Durante uma sessão de fotos para um jornal carioca, um grupo de meninos e meninas, com idades entre 6 e 8 anos, reconheceu a atriz, que, no folhetim das oito, vive vestida de freira. Simpática, ela deu autógrafos e perguntou se algum deles sabia rezar o terço. Diante da negativa da garotada, Bete caiu na gargalhada e confessou que, quando o assunto é fé, ela usa desde medalhinhas de Nossa Senhora a chaveiros com penduricalhos contra mau-olhado.

Manoel Carlos, que escreveu Irmã Natércia especialmente para Bete, cita a atriz como uma de suas preferidas. E garante que o Sítio só tem a ganhar com sua atuação: "Não existem papéis pequenos para a Bete, já que ela dá brilho a tudo que faz. A Irmã Natércia é um desses personagens curtos, mas que exigem uma atriz sensível, capaz de captar todas as nuances do comportamento de uma freira que, apesar da rigidez dos seus votos perpétuos, tem que demonstrar grande humanidade e muita tolerância". Torturada pelo DOI-Codi, ex-deputada federal, ex-secretária de Cultura do estado de São Paulo e ex-presidente da Funarj, Bete garante que não quer mais saber de política. "Nunca digo a palavra nunca, mas não sinto nem vontade nem saudade. Integrante da ONG Movimento Humanos Direitos (MHuD), que desenvolve, por exemplo, atividades voltadas para o combate do trabalho escravo, ela diz que "o presidente Lula não vai fazer nada por ninguém". A sociedade, diz a atriz, uma das fundadoras do PT, é que precisa se organizar e se mexer. "E em pequenas coisas. Hoje em dia, não consigo mais atravessar uma rua sem levar um tranco de alguém. É preciso ter educação", reclama ela.

A temporada inédita do Sítio do Picapau Amarelo será lançada em abril, junto com a nova programação da Globo, e será exibida dentro do TV Xu-xa. A direção será assinada por Carlos Magalhães e o infantil voltará a ser centrado nas histórias originais de Monteiro Lobato.

Outra novidade é que todos os personagens terão novos intérpretes. Solange Couto está cotada para ser a Cuca, e a cantora Rosa Maria deverá viver Tia Anastácia. "Acho que a Dona Benta vai me ensinar muito. O livro de receitas delas é maior que a Bíblia", brinca Bete.