À luz dos meus olhos, a coisa mais preciosa deste mundo, (...) peço que case nossas filhas com mujahedins [“guerreiros santos”] e, se isso não for possível, com boa gente.
A divulgação da biblioteca e de documentos pessoais de Osama bin Laden (1957-2011) permite analisar a gestão da rede terrorista Al-Qaeda por um homem obcecado em matar “infiéis”, mas também de um francófilo com pretensões de erudito.
A desclassificação pelo Escritório do Diretor de Inteligência dos Estados Unidos de mais de uma centena de documentos encontrados pelas forças de elite americana da Navy Seal na guarida de Bin Laden em Abbottabad, no Paquistão, revela as muitas facetas de um terrorista que, sobretudo, dispunha de muito tempo.
Entre seus 40 livros em inglês estavam dois títulos do linguista e referência da esquerda Noam Chomsky e Obama’s Wars, do jornalista Bob Woodward (conhecido pelas reportagens do Watergate, feitas em parceria com Carl Bernstein); além de volumes sobre conspirações como Bloodlines of the Illuminati e teorias sobre programas de manipulação mental da CIA.
Na biblioteca de Bin Laden, abatido a tiros por militares da divisão “seal” (sigla para mar, ar e terra) da Marinha americana em maio de 2011, se destacavam títulos sobre o domínio geopolítico americano, da teoria das relações internacionais, história de guerra e direito internacional.
O líder da Al-Qaeda, escondido ali desde 2006, teve tempo de amealhar uma grande coleção de consulta, incluída uma rara edição do ensaio de Charles R. Haines do século 19 sobre cristandade e islã na Espanha entre 756 e 1031.
Mas a maior paixão de Bin Laden parece que foram os estudos de história política e econômica francesa, sobre os quais acumulou mais de 20 publicações e documentos.
Até agora se desconhecia a francofilia do terrorista mais procurado da história, mas o saudita acumulava tratados sobre água, gestão de resíduos radioativos, censos territoriais e desigualdade social na França.
Inclusive encontrou o formulário necessário para enviar artigos à publicação acadêmica French Culture, Politics, and Society Journal, embora não se saiba se Bin Laden pretendia rebater ou compartilhar seu extenso conhecimento sobre a história da França com a comunidade acadêmica.
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