Antes de tornar-se mito e um dos mais respeitados escritores brasileiros, Dalton Trevisan editou, de 1946 a 1948 a revista paranaense Joaquim, que questionava o domínio dos artistas que se revezavam no "poder da cultura" do Paraná e agitou os humores na área. Cinco décadas depois, o escritor Wilson Bueno (1949-2010) lançava Nicolau, também dedicado à literatura e às artes. Amanhã, um novo produto que segue a tradição desses míticos periódicos começa a circular gratuitamente na cidade, Cândido, novo jornal literário da Biblioteca Pública do Paraná (BPP).
Com coordenação editorial do diretor da BPP, Rogério Pereira, e do jornalista e chefe da Divisão de Difusão Cultural, Luiz Rebinski Junior, o jornal, de 32 páginas e com tiragem inicial de 5 mil exemplares trará mensalmente, além de informações sobre os projetos da biblioteca (publicando a entrevista com o escritor do mês e contos de oficineiros), reportagens sobre o mercado editorial, entrevistas, contos, poemas, crônicas inéditas e trechos de romances. Na edição inaugural, a capa de Cândido (cujo nome é uma homenagem ao endereço da BPP, a rua Cândido Lopes) é dedicada ao poeta Paulo Leminski (1944-1989), que completaria 67 anos neste mês.
Além de um texto do autor da biografia de Leminski (O Bandido Que Sabia Latim, Ed. Record), Toninho Vaz, que tinha uma intensa relação de amizade com o poeta, a edição dá espaço ao escritor gaúcho Ricardo Silvestrin, que escreve sobre o legado poético de Leminski. "Ele redescobriu o verso poético, trazendo elementos da contracultura e tornando a poesia comunicativa e contemporânea", ressalta Silvestrin, que foi fortemente influenciado pelo "poeta do Pilarzinho". "Descobri a poesia pela primeira vez com Manuel Bandeira e depois com Leminski, quando vi que havia uma linguagem mais próxima da minha geração". Contos inéditos de Amilcar Bettega e Paulo Venturelli, dois poemas de Rodrigo Garcia Lopes e uma entrevista com Miguel Sanches Neto são outros destaques do primeiro número do jornal.
Apesar da ambição de figurar entre os periódicos culturais que marcaram época no estado, Cândido não reproduzirá modelos anteriores. "Vamos fazer um jornal adequado ao nosso tempo, com uma pluralidade editorial tanto de nomes quanto de estilos", diz Pereira, que já contava com a experiência de ter criado o maior jornal literário do país, o Rascunho. Na nova iniciativa, o diretor também quer dar destaque à produção paranaense. "Não queremos ser bairristas, mas valorizar a literatura daqui, que será um dos fios condutores do jornal."
Estímulo
O lançamento do jornal, salienta o diretor, está dentro dos projetos da BPP voltados para o livro, leitura e literatura, e pretende ser interessante também para quem não mora ou não conhece o Paraná. "Temos uma preocupação de publicar textos que estimulem a leitura e coloquem o livro como protagonista. Queremos ter um viés nacional, trazendo colaboradores do Brasil inteiro, o que agrega força para a discussão sobre cultura". Inicialmente, cerca de 500 exemplares da publicação serão distribuídos para outras cidades do país. Em Curitiba, além da BPP, Cândido estará disponível em espaços da Fundação Cultural de Curitiba e da Secretaria de Estado da Cultura.
Desenhos
Outra vertente da linha editorial do jornal é valorizar o trabalho da nova geração de cartunistas e ilustradores. Rafael Sica assina a capa do primeiro número, com uma ilustração de Leminski, e Pedro Franz retrata, na sessão "Retrato de um Artista", o escritor norte-americano Ernest Hemingway, que se suicidou há cinquenta anos. A próxima edição, em setembro, falará sobre Wilson Bueno e seu livro póstumo Mano, a Noite Está Velha (Planeta Literário). Em 2012, o projeto da BPP é que a tiragem de Cândido dobre e passe para 10 mil exemplares.
Serviço
Cândido, jornal da Biblioteca Pública do Paraná. Distribuição gratuita nos espaços da Fundação Cultural de Curitiba, Secretaria de Estado da Cultura e na BPP (R. Cândido Lopes, 133 Centro), (41) 3221-4900, a partir de amanhã.
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