Não é fácil adaptar uma obra de 35 anos de idade repleta de canções que grudaram na memória coletiva. Por isso, o diretor Maurício Vogue, ao decidir montar o musical Os Saltimbancos, se cercou de preparadores de primeira linha, que optaram por transformações criativas e agora entregam um resultado de alta qualidade (Veja o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo).
As conhecidas canções sobre quatro animais que enfrentam o poder dos "barões" da elite e buscam uma cidade ideal voltam a ser encenadas em Curitiba a partir de amanhã, no Teatro Regina Vogue, todos os sábados e domingos às 16 horas, até 3 de junho.
Levadas ao palco pela primeira vez no Brasil em 1977 por Chico Buarque, com Marieta Severo, Miúcha e Bebel Gilberto (ainda menina) no elenco, a obra, adaptada do original italiano I Musicanti, representou à época uma metáfora sobre o enfrentamento da ditadura.
Na recontextualização, Maurício acrescentou um pouco ao texto, para dar conta de coisas que "precisam ser ditas hoje", como a necessidade de se proteger os animais.
Para essa transformação, diversos profissionais trouxeram suas referências. A direção musical é de Sérgio Justen, que elaborou arranjos com uma levada eletrônica um DJ (Kleber Gregorio) comanda o espetáculo musicalmente, com muitas entradas ao vivo que dão unidade às cenas. "Ele funciona quase como um MC, e até muda de figurino", explica o diretor.
A caracterização dos personagens é um destaque dessa montagem, que jogou longe as cabeças de bicho, plumagens e pelos para criar animais que estão no liminar com o humano. A figurinista Maureen Miranda tomou referências das criaturas para então transformá-las, como o rabo do burro que se tornou uma trança de oriental o animal, conforme diz uma das canções, é um "velho sábio".
Os movimentos em cena são outro ponto forte. "A peça é toda coreografada", explica Maurício, que chamou a bailarina Carmen Jorge para a tarefa. "Usamos desde passos que já existem até experiências vindas dos atores, como a dança de rua", ela conta.
No cenário, quatro gaiolas se abrem e fecham para compor cada cena e abrir possibilidades de interação entre os personagens.
Isso acontece, por exemplo, na conhecidíssima canção "História de uma Gata", celebrizada na voz de Lucinha Lins no filme Os Saltimbancos Trapalhões (1981). "Nós gatos já nascemos pobres / Porém, já nascemos livres..." entoam os animais, enquanto a gata vivida por Taciane Vieira é aprisionada para depois ganhar novamente as ruas, já liberta dos mimos da burguesia. A "cantoria" dos animais-artistas foi preparada pela musicista Iria Braga.