Em um gênero dominado pelos cariocas e pelas letras sexualmente explícitas, o jovem Biel representa a cara bem comportada e palatável do funk, feita para tocar nas rádios comerciais. Nascido em Lorena, interior de São Paulo, começou a fazer sucesso na internet como MC, em 2014.
Depois de reunir um fã clube – batizado de “Família Baladeira” –, ele entrou no catálogo da multinacional Warner Music, no ano passado. Apoiado pela estrutura da gravadora, passou por uma espécie de “rebranding” parecido com o de Anitta e Ludmilla – também artistas inicialmente ligadas ao funk carioca.
O cantor derrubou o MC do nome artístico e vestiu uma roupagem musical e visual mais pop, com bastante ênfase no público teen (o pingo do “i” da marca de Biel, que é frequentemente comparado ao astro canadense Justin Bieber, é um coração); e passou a ir aos palcos acompanhado por banda e uma dupla de dançarinos com quem divide algumas coreografias, emulando o pop internacional.
Biel fala de Biel
Os números impressionantes que o artista acumula no YouTube e nas redes sociais se fizeram sentir na passagem de Biel por Curitiba na última quinta-feira (7). Antes mesmo de lançar seu primeiro disco, previsto para o fim de abril, ele encheu a casa noturna Shed Western Bar, no Batel, com um sucesso comparável a alguns dos artistas mais lucrativos do país. Segundo um produtor do evento, a festa do rapaz superou a última vinda da dupla Fernando e Sorocaba – e isso sem poder contar com seu target principal (o show principal foi só para maiores; apenas uma centena de adolescentes e crianças pôde vê-lo em um pocket show promocional na tarde anterior ao evento).
Números
1.522.709 inscritos e 175.984.404 visualizações
48.704.429 visualizações
654 mil seguidores
4.404.468 pessoas gostam
A reportagem da Gazeta do Povo tentou se aproximar do artista. Mesmo contando com apoio da casa e escapando da demorada fila que se formou na Rua Bispo D. José até pouco antes do início do show, levou duas horas e meia apenas para chegar a um corredor estreito nos bastidores. Ali, também se espremiam outras duas ou três jornalistas, uma equipe de vídeo, um punhado de fãs sorteados para tirar fotos com o artista, seis hostesses que também queriam cliques, um punhado de assessores, produtores, seguranças.
Cercado por toda esta gente, ele deu entrevistas de três, cinco minutos. Disparou uma narrativa já meio pronta sobre trabalho, apoio da família (o pai, DJ e produtor, foi o primeiro a colocá-lo em um palco), conquistas desde o início da carreira. Lembrou que chegou a fazer 50 shows em um mês, dividindo o volante com um DJ de um evento a outro. Diz que hoje faz entre 15 e 20 apresentações, e que está se divertindo à beça.
“... Era uma loucura quando falei que queria chegar aqui, e cheguei... Acredito que podemos ir mais longe... Enquanto tiver coração, acho que vai ter Biel” – disse, em terceira pessoa, como é em boa parte de suas músicas: “o Biel caprichou”; “nada tem sabor depois que prova do Biel”; “rebola, empina pro Biel e arrebenta”.
“Canta mal, mas é uma delícia”
Sorridente e de tom manso, ele contou que, assim como “Química”, a maioria das músicas não são criações dele, mas de produtores tarimbados. “Não tive muito tempo, cara. Confesso que eu meio que dei mole nisso aí”, brincou. “Procuro cuidar mais do que diz respeito a mim, [como] cuidar da minha imagem”, disse, apontando para o abdômen, um dos carros-chefe do trabalho.
“Biel canta mal, mas é uma delícia”, confirma uma fã, no fim do show – que é principalmente um apanhado de pot-pourris de sucessos de balada, do funk ao sertanejo universitário, entremeados com meia-dúzia de canções próprias e odes à solteirice. As camisas são tiradas depois de meia-hora. Parte do público grita. Outra parte, reunida em torno de baldes com garrafas de uísque e espumante, com copinhos de acrílico de cores cítricas nas mãos, não está nem olhando.
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