Duas apresentações da Orquestra de Câmara da Cidade de Curitiba nesta sexta-feira (14) e sábado (15) abrem a programação da terceira Bienal Música Hoje – um festival internacional de música clássica contemporânea que promove apresentações em diferentes espaços da cidade até o dia 22. O grupo da Camerata vai apresentar a estreia brasileira da obra “Ramifications” (1968), do compositor húngaro György Ligeti, e peças finalistas do Concurso Nacional de Composição Música Hoje.
A bienal, organizada pelo coletivo Ensemble entreCompositores, tem entre os destaques dois grupos internacionais: o norte-americano International Contemporary Ensemble (ICE), de Nova York, considerado um dos principais conjuntos de música contemporânea hoje; e o alemão Myotis Kollektiv, que também participou da edição de 2013, e que neste ano se apresenta com a cantora norte-americana radicada em Curitiba Mossa Bildner.
Mas a marca desta edição, de acordo com um dos seus organizadores, o compositor Márcio Steuernagel, é a presença de trabalhos de Curitiba – alguns surgidos recentemente, desde o início da série de bienais.
O músico conta que, devido a dificuldades para conseguir patrocínio, a Bienal teve de abrir mão de artistas de fora inicialmente previstos para a programação, mas que, ao se apoiar em artistas da cidade, acabou se deparando num cenário movimentado para a música nova em Curitiba.
As bienais correm o risco de serem como um disco voador, que traz um monte de gente de fora, que pousa na cidade, faz concertos lindos e nada muda
Desde a primeira edição, em 2011, dois grupos surgiram no entorno da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) – o Ensemble Móbile e o Nih-Nik; um núcleo de composição foi fundado no Sesi-PR, coordenado por Harry Crowl e Indioney Rodrigues; um novo quinteto de sopros, o Sopro5, foi criado no âmbito do Teatro Guaíra, tendo entre suas propostas a abertura para obras de novos compositores; e o madrigal vocal Ars Iubilorum se tornou um espaço da música contemporânea dentro da Comunidade Luterana do Redentor (confira a participação dos grupos na programação).
“A cena curitibana mudou muito nessa Bienal”, conta Steuernagel, que diz identificar também uma mudança no perfil de seus alunos na Embap e entre os membros da Orquestra Filarmônica da UFPR. “As bienais correm o risco de serem como um disco voador, que traz um monte de gente de fora, que pousa na cidade, faz concertos lindos e nada muda. Vemos que o cenário da cidade, também por causa do Simpósio Internacional de Música Nova e Computação Musical, do Felipe de Almeida Ribeiro, realmente sugou as coisas de música nova”, avalia.
O compositor Harry Crowl, que vai apresentar palestras ao longo de todo o evento, também destaca a abertura a novas linguagens. Ele cita a apresentação de encerramento, em que integrantes da Orquestra Filarmônica da UFPR e do Ensemble entreCompositores vão executar uma peça de John Cage e uma obra coletiva formada por composições de 14 músicos, como um exemplo de ousadia (a composição será tocada por formações separadas no interior do Prédio Histórico da UFPR e somente o público que estiver na Praça Santos Andrade poderá ouvir o resultado completo, que será transmitido por caixas de som).
FESTIVAL
De 14 a 22 de agosto.
“Se compararmos a nossa com a Bienal de Música Brasileira Contemporânea do Rio de Janeiro, um evento grande, portentoso, dá para perceber que a Bienal Música Hoje favorece muito linguagens atuais. Não há em nenhum destes concertos obras que tentam simplesmente recriar coisas que já aconteceram. Há uma preocupação sincera de refletir uma cena atual”, diz Crowl. “A diferença da ideia do que se faz hoje para aquilo que se chamou de vanguarda é que vanguarda dá sempre a ideia de algo que não está sendo compreendido agora. A preocupação hoje não é essa: é refletir realmente o momento, o que está em volta, mesmo que de maneiras muito abstratas. E nesse aspecto a Bienal Música Hoje é bem representativa.”
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