Em sua quarta edição, a Gibicon volta repaginada como Bienal de Quadrinhos de Curitiba. A maratona de palestras, debates, exposições e sessões de autógrafo começa nesta quinta-feira (8) no MuMA (Museu Municipal de Arte) com um timaço das artes gráficas do Brasil e do mundo. A entrada é franca e a programação vai até domingo (11). São esperadas mais de 20 mil pessoas nos quatro dias de evento, que tem apoio da Fundação Cultural de Curitiba.
“Foi difícil abrir mão da palavra ‘gibi’, que é um termo tão brasileiro. Mas não estamos perdendo nada. Ainda há espaço para os mangás e super-heróis, mas vamos focar nas grandes questões sociais que os quadrinhos costumam abordar”, diz o coordenador Fabrizio Andriani. “O tema central é o quadrinho como fator de formação (já que muitos começam a ler pelos gibis) e a integração social, racial e de gênero”, explica.
Convidados
Entre os principais convidados internacionais está o catalão Joan Cornellà, autor de controversas tiras extensamente compartilhadas nas redes sociais.
Nomes brasileiros como Laerte, Jaguar, Adão Iturrusgarai, Allan Siebert, André Dahmer e Arnaldo Branco também vêm a Curitiba. Da Gazeta do Povo, participam Benett e Robson Vilalba, além de um time de paranaenses de encher os olhos, encabeçado por Bianca Pinheiro e Rogério Coelho (leia mais abaixo).
A programação completa de debates e palestras está no site da Bienal. As sessões de autógrafo ainda estão sendo fechadas.
Agenda
Exposições: ficam em cartaz até 15 de novembro dez mostras, incluindo uma sobre os artistas curitibanos. Marcello Quintanilha, Shiko e Benício, o homenageado, também estão previstas.
Feira de Quadrinhos: Reserve uma verbinha para alimentar sua paixão pelos quadrinhos. A feira deste ano terá 1.000 m² em três áreas do evento, destinadas aos artistas, editoras e expositores. O visitante poderá conversar com alguns desenhistas e adquirir obras. Todos os dias de evento, das 11h às 21h.
Duelo HQ (na sexta-feira, dia 9, às 22h): O evento é realizado fora do MuMA, no Quintal do Monge, e por isso é cobrado ingresso a R$ 5. Com a participação do público presente, que vai sortear temas, dois desenhistas se enfrentam, desenhando em tempo real.
Assinaturas de autógrafos: O público deve ficar de olho na programação no site da Bienal e na página do Facebook do evento.
Espanhol é quase segunda língua: quem são os convidados internacionais
Como resumiu o coordenador Fabrizio Andriani, o segundo idioma desta Bienal é o espanhol. Além do catalão Joan Cornellà, quatro desenhistas da América do Sul, cada um de um país, compartilham seu trabalho – e visões – no Brasil. Pochep Philippe, da França, completa o time de estrangeiros. Veja abaixo mais detalhes dos trabalhos desses artistas.
Joan Cornellà
O espanhol de 35 anos conta hoje com 4 milhões de seguidores no Facebook, o que dá a medida de sua popularidade nas mídias sociais. Seus quadrinhos sem diálogos são repletos do mais explícito humor negro e, por conta disso, ele é alvo constante de retaliações, que vão da suspensão de sua página até ameaças de morte. Insano” e “perturbador” são apenas alguns dos adjetivos mais leves utilizados para falar do trabalho do cartunista.
Nascido em Barcelona, Cornellà já colaborou em publicações como a revista El Jueves e o jornais Le Monde e The New York Times.
Suas principais influências são os quadrinistas underground americanos Daniel Clowes e Robert Crumb e a dupla belga Kamagurka &Herr Seele, da tira Cowboy Henke. Os quadrinhos de super-heróis, porém, nunca foram a sua praia.
Já tem cinco álbuns lançados. “Abulio” (2010), “Fracasa Mejor” (2012), “Mox Nox” (2013), “Zonzo” (2015) e “SOT”, lançado há poucos dias na Europa.
“Zonzo”, foi o primeiro título do catalão lançado no Brasil. A editora Mino publicou a obra em fevereiro último.
Na Bienal, ele não deve participar de nenhuma mesa (ao menos não programada, a seu pedido), mas participará de sessão de autógrafos em data e horário a serem divulgados.
Jesús Cossio
O peruano Jesús Cossio é um especializado em HQs de cunho jornalístico, como por exemplo as graphic novels Rupay – Historias Gráficas Sobre la Violencia Política 1980–1984 e Barbarie – Cómics Sobre la Violencia Política 1985–1990. Ele participa de duas mesas de debate. A primeira, na sexta-feira (9), às 16h, “Quadrinhos e Conflitos de terra”, terá também Daniel Esteves e André Toral. No domingo (11), ele fala sobre fazer quadrinhos na América Latina com Power Paola, Troche e Lucas Varela, outros ‘hermanos’ (e hermana) do evento.
Lucas Varela
Entre os latino-americanos, o portenho é um dos mais estabelecidos no mercado brasileiro. Seu livro Paolo Pinocchio foi publicado no país pela editora Zarabatana. O argentino também emplacou histórias nos volumes 1 e 2 do álbum Fierro Brasil. Varela, radicado na França, publicou duas de suas HQs recentes, Ele e El Cuerno Escarlata, para o mercado francês, na Holanda e nos Estados Unidos. Também já mostrou seu trabalho na Espanha. Além da mesa latino-americana, participa também, na sexta-feira (9), de Quadrinhos Silenciosos, às 14h, com Troche, Rafael Sica, Alexandre S. Lourenço e André Ducci.
Pochep Philippe
O francês de 48 anos começou a se dedicar aos quadrinhos há pouco tempo. Em 2007, lançou o blog Politburo. Atualmente, colabora com as publicações “L’Écho des Savanes”, “Les Inrockuptibles”, “Métro”, “Fluide Glacial”, “La Revue Desinée”, “Phosphore” e “Topo”. Entre 2010 e 2013, participou de “Les Autres Gens”, uma história em quadrinhos publicada na internet. Também tem trabalho marcante em “Projet 17 Mai”, que reúne cartunistas contra a LGBTfobia. Na sexta-feira (9), às 20h, participa do debate “Quadrinho, Gênero e Diálogo” com Maria Clara Carneira, Laerte e Adão Iturrusgarai.
Power Paola
Nascida no Equador e baseada na Colômbia, Paola Gaviria, 39 anos, é uma das poucas mulheres a se dedicar às HQs em seu país. A primeira graphic novel, Vírus Tropical, fala sobre sua infância em Quito, no berço de uma família conservadora. O trabalho foi lançado no Brasil no ano passado pela Editora Nemo. Power Paola, como assina seus desenhos, já foi publicada nas revistas espanholas Argh! e Kovra e na peruana Carboncito. Suas HQs também podem ser conferidas na internet em sites como o argentino Historietas Reales e no coletivo Chicks on Comics. Paola é uma das convidadas mais ativas na mesa de debates: na sexta (9), falará em dois horários, às 11h, em Quadrinhos autobiográficos e às 18h, em “Cadernos De Viagens”. No sábado, às 11h, participa de “Leia Mulheres – Vírus Tropical”.
Troche
Gervasio Troche tem 40 anos e nasceu em Buenos Aires porque os pais uruguaios estavam exilados no país vizinho. Baseou-se no Uruguai em 1985 após morar na França e no México. Seu trabalho começou a ser publicado em 2000, com Mangrullo da Editorial Almacén. No Brasil, foram lançados Dibujos Invisibles e Bagagem, pela Editora Lote 42. A principal marca de seus quadrinhos é que não há diálogos. Troche participa de duas mesas, já citadas: com os colegas sul-americanos e sobre quadrinhos silenciosos.
Confira os destaques entre artistas brasileiros
A agenda de convidados é extensa e com muita gente publicada por grandes veículos, editoras ou com muitos fãs nas redes sociais. Mas o time de artistas brasileiros - com grande representação curitibana - é forte. Veja alguns nomes de destaque.
Bianca Pinheiro
Agosto e setembro de 2016 foram agitados para a quadrinista carioca radicada em Curitiba. Além da Bienal de Quadrinhos, esteve ativamente na Bienal de Livros de São Paulo. O motivo? Lançou dois livros: o terceiro volume de “Bear”, pela editora Nemo e a Graphic MSP “Mônica – Força”, pela Panini. “Dora”, seu primeiro trabalho, feito de maneira independente, também ganhou reedição pela Mino.
Formada em Artes Gráficas pela UTFPR e pós-graduada em Histórias em Quadrinhos pela Opet, ela lançou também de maneira independente Meu Pai é um Homem da Montanha.
A série Bear, que projetou Bianca, começou como webcomic. Foi escolhida para escrever a tocante história da Graphic MSP no ano passado. O anúncio foi feito durante a FIQ, em Belo Horizonte.
Alexandre de Maio
O autor paulista se destaca por fazer jornalismo por meio de seus traços, marca que passou a desenvolver em 2010 e pela qual ganhou em 2013 o prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo pela reportagem “Meninas em Jogo”, sobre a exploração sexual infantil em Fortaleza. Lançou três livros na França: Génération Favela, Je suis Rio e Favela Chaos.
André Ducci
O curitibano é conhecido pelo projeto Anatomista e participou de antologias como MSP+50, Fierro Brasil 2, Cidade Sorriso dos Mortos, Vigor Mortis 2, Aargh!!! e Stripburger. Ilustrou o livro Guia de Ruas sem Saída, de Joca Reiners Terron, e publicou a HQ Fim do Mundo pela Arte & Letra, também de Curitiba.
Amanda Barros
A jovem ilustradora de Curitiba já tem um currículo e tanto. Formada em em Design Gráfico pela PUC-PR e ganhadora do 4º Prêmio Ibema de Gravura, é diretora de arte do Ursereia Estúdio e Editora e autora da webcomic Cassandra & The Flaming Puppies.
Bruno Azevedo
O maranhense também se destaca por conta do apelo jornalístico de seus quadrinhos, lançados por seu selo próprio, o Pitomba. Exemplos são Breganejo Blues e O Monstro Souza. Sua primeira graphic novel foi lançada em 2013: Baratão 66. E a mais recente, Em Ritmo de Seresta, que fala sobre o movimento brega do Maranhão
Guilherme Caldas
O curitibano de 43 anos é notório na cena independente desde os anos 1990 e publicou o primeiro fanzine em parceria com Olavo Rocha, seu parceiro constante. Entre seus títulos estão “1968 Ditadura Abaixo” e “Candyland”.
Gian Danton
Um dos ‘pais’ de “O Gralha”, também produziu os títulos “Família Titã” e “Manticore”. É também autor de títulos sobre quadrinhos, “Como Escrever Quadrinhos” e “Francisco Iwerten, a biografia de uma lenda”, por exemplo. Ganhou o prêmio Ângelo Agostini de melhor roteirista.
Liber Paz
Professor da Universidade Tecnológica do Paraná, é pesquisador de quadrinhos e autor dos álbuns “As Coisas que Cecília Fez” e “Dias Interessantes”. Ganhou o HQ Mix de 2009 por sua dissertação de mestrado.
Marcello Quintanilha
O niteroiense de 45 anos começou assinando os primeiros trabalhos como Marcello Gaú ainda em 1988, nas páginas do gibi de artes marciais Mestre Kim, da Bloch. Em 2003, deu início à carreira internacional com o álbum La promesse e mudou-se para Barcelona. Ganhou o prêmio Fauve Polar SCNF do Festival de Angoulême por Tungstênio.
Mariana Paraizo (Mazô)
Estudante de arte baseada no Rio de Janeiro, Mazô escreveu os quadrinhos O Ateneu, O Pirilampo Telegrafista (do site Nébula), John (na coletânea Badboyfriends) e da série Viagem ao Centro da Terra.
Rogério Coelho
O paulista radicado em Curitiba acaba de ganhar o prêmio de desenhista nacional no HQMix pelos álbuns “O Barco dos Sonhos” e “Louco – Fuga”, Graphic MSP lançada no ano passado. Ilustrador requisitado, começa a dar a primeira guinada em direção à produção de HQs.
Benício e suas pin-ups ganham homenagem
O homenageado desta edição é o ilustrador gaúcho Benício, 80 anos, que imortalizou as atrizes dos filmes brasileiros, desde pornochanchadas como “A Super Fêmea” (Vera Fischer) até o premiado “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (Sônia Braga) em lindas pin-ups. Também fez capas de livros de bolso, romances como “Giselle” e álbuns.
O desenhista vai ser agraciado com o prêmio Claudio Seto: uma estatueta da personagem Maria Erótica, uma das principais personagens do quadrinista paulista, morto em 2008, que fez HQs eróticas em plena ditadura. A escultura do prêmio foi feita por Thiago Provin.
Curadores
Heitor Pitombo (RJ), jornalista, tradutor e colaborador da revista “Mundo dos Super-Heróis”; Lobo (RS) é responsável pelo portal Quadrinhos Para Barbados , Rafael Coutinho (SP) é autor de “Cachalote” e editor da Naval Comix. De Curitiba, fazem parte Mitie Taketani (Itiban Comic Shop) e André Caliman, autor da graphic novel “Revolta!”. Os consultores são Ibraim Roberson (Marvel, DC Comics e Sergio Bonelli) e Antônio Éder (artista premiado pelo HQ Mix e pelo Angelo Agostini).
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