Autor de dois livros que falam de religião do ponto de vista cultural e histórico, o jornalista Rodrigo Alvarez viu no padre Fábio de Melo – um dos mais famosos religiosos brasileiros hoje – um fenômeno a ser investigado.
Correspondente internacional da TV Globo, ele conheceu por acaso o cantor e sacerdote católico em Jerusalém, em uma reportagem sobre peregrinos brasileiros na Terra Santa durante as celebrações de Pentecostes, em 2015. Em uma questão de dias, decidiu que queria escrever sua biografia.
Além da enorme popularidade de Fábio de Melo no Brasil, Alvarez se interessou pelo discurso do padre sobre religião – mais “aberto” do que o jornalista esperava.
“Venho pesquisando religião desde 2011, por conta do livro ‘Aparecida’ (2014), mas também estudei em colégio e universidade católicos. Então eu nasci em um meio religioso, apesar de não ser uma pessoa religiosa. De repente, vi um padre falando abertamente sobre religião, sem tentar impor dogmas”, conta o autor de “Humano Demais”, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo.
“Fiquei impressionado por perceber que havia espaço no Brasil para um padre que pensava desta forma. E que havia se tornado tão popular. Meu desafio foi entender como esse fenômeno se dava”, explica o autor.
Fiquei impressionado por perceber que havia espaço no Brasil para um padre que pensava desta forma. E que havia se tornado tão popular. Meu desafio foi entender como esse fenômeno se dava.
Alvarez e Fábio de Melo participam de um evento de lançamento do livro hoje, às 19 horas, na Livrarias Curitiba do Shopping Curitiba.
Castidade
Nas pesquisas – que incluíram mais de cem entrevistas ao longo de cerca de um ano e meio – o autor se deparou com o que resume como “uma história brasileira”.
Sangue
Durante a pesquisa, Rodrigo Alvarez se encontrou com Fábio de Melo sempre que pôde – inclusive em shows do cantor. “Viajei com ele e vi a loucura que é quando os fãs vão para cima dele, não o deixam andar, arranham – às vezes tiram sangue dele”, conta o autor, que considera o biografado “um pouco workaholic”. Ao longo do processo, biógrafo e biografado se tornaram amigos.
Fábio de Melo, hoje com 45 anos, foi o oitavo filho de uma família pobre de Formigas (MG). Foi o único a não ter de trabalhar com o pai, que era pedreiro, e conseguiu terminar os estudos. Uma vizinha o ajudou a ir para o seminário, com a intenção de afastá-lo da situação degradante da família. Já no meio católico, se destacou como pregador e passou a ser considerado uma espécie de conselheiro – papel que faz no programa “Direção Espiritual”, na TV Canção Nova.
O sucesso massivo veio em 2008 com o álbum “Vida”, um disco não religioso que abriu portas na mídia. Mais recentemente, Fábio de Melo ganhou popularidade na internet – sua conta no Snapchat, plataforma mais popular entre o público jovem, é uma das mais famosas no Brasil.
Rodrigo Alvarez. Ed. Globo, 448 págs., R$ 49,90. Lançamento na Livrarias Curitiba do Shopping Curitiba (R. Brigadeiro Franco, 2.300), (41) 3330-5183. Hoje (21), às 19h. Entrada franca.
O livro conta tudo isso em detalhes – inclusive a respeito de “transgressões” da trajetória do religioso, que quebrou o voto de castidade antes de se ordenar e fala abertamente sobre isso (o primeiro capítulo da biografia já trata deste episódio).
Alvarez conta que procurou não discutir de fato questões como a relação entre a vocação religiosa e a fama, ou as visões do padre sobre religião que despertaram seu interesse. “Ao entrar na história dele, as pessoas vão conseguir entender”, sugere.
Para o autor, o padre é uma “personalidade do nosso tempo”, com influência sobre um grande número de brasileiros – religiosos ou não.
“É uma pessoa com um pensamento privilegiado, com uma honestidade rara, que é capaz de provocar reflexões”, diz.