Em 2008, o músico e poeta canadense Leonard Cohen, 77 anos, foi "obrigado" a voltar a fazer turnês após 15 anos sem botar o pé na estrada, para recuperar o prejuízo de mais de US$ 5 milhões causado por sua ex-empresária, Kelley Lynch. Entre 1994 e 1999, anos em que Cohen viveu em um monastério budista em Los Angeles, afastado da indústria musical, Kelley apropriou-se indevidamente do que seria a aposentadoria do cantor, quantia jamais devolvida, mesmo após uma extensa batalha judicial iniciada em 2005, época em que ele descobriu o "rombo" em sua conta bancária.
O episódio, apesar de bastante infeliz, reavivou a carreira de Cohen. A turnê mundial em que ele embarcou para ganhar dinheiro durou dois anos e rodou o mundo ao Brasil, infelizmente, nenhum produtor teve a perspicácia de trazê-lo. Além disso, a excursão resultou no primeiro DVD da trajetória do cantor (Live in London, também lançado em CD) e rendeu um total US$ 9,5 milhões, reequilibrando assim suas finanças.
No entanto, o aspecto mais positivo de toda essa história foi o fato de Cohen ter voltado a compor canções inéditas. Em entrevista ao cantor Jarvis Cocker (Pulp), publicada no jornal inglês The Guardian no mês passado, o músico diz ter voltado a escrever graças aos dois anos de shows que fez ao redor do planeta. "Quando terminei a turnê, eu não queria parar", contou. Desse processo, surgiu Old Ideas que acaba de chegar às prateleiras nacionais primeiro disco de inéditas de Cohen em oito anos e seu 12.º álbum de estúdio desde 1967.
Em família
Para voltar às salas de gravação, Cohen cercou-se de parceiros de longa data. O produtor Patrick Leonard, o tecladista e saxofonista Dino Soldo e a cantora havaiana Anjani Thomas (também namorada do cantor) são creditados como produtores e coautores das canções do novo disco. As vozes de Sharon Robinson (presente nos sucessos "Everybody Knows" e "Waiting for the Miracle"), Dana Glover e da dupla Webb Sisters apoiam o tom barítono e já gasto do canadense.
Em meio a tanta gente conhecida, Cohen sente-se à vontade para tratar de temas recorrentes em sua obra (as tais "ideias antigas" que dão título ao disco): amor, sexo, morte, Deus, desejo, arrependimento, sofrimento, esperança e como tudo isso pode ser misturado para aliviar as dores de sua existência.
Na terceira pessoa, Cohen descreve a si mesmo, quase sussurrando, como um "bastardo preguiçoso vestido em um terno" na faixa de abertura "Going Home", em que teclados eletrônicos equilibram-se com o violino e a discreta voz de Dana Glover. Quase um jazz cigano, com direito a banjo e um violão tocado pelo próprio Cohen, "Amen" trata do amor em sua totalidade, incluindo suas piores facetas.
À la "Halleluja", o hino gospel "Show Me the Place" comove ao esbanjar, ao mesmo tempo, convicção e vulnerabilidade. Já a blueseira "The Darkness" abusa de uma franqueza brutal para tratar do confronto com o inevitável: "Eu não tenho futuro/ E meus dias são poucos/ O presente não é tão agradável/ Apenas um monte de coisas a fazer". Destacam-se ainda a belíssima "Crazy to Love You", escrita em parceria com a namorada Anjani e a espiritual "Come Healing", com ótima participação das Webb Sisters.
Como já era esperado, Old Ideas é a obra-prima de um gênio septuagenário, que zomba da serenidade idealizada lembrando a si mesmo de suas principais fraquezas. Prova de que as ideias de Cohen, mesmo que velhas, continuam as melhores.
Serviço:
Old Ideas, de Leonard Cohen. Sony Music. Preço médio: R$ 24,90.
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