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Apesar de muito próximos geograficamente, Brasil e Argentina não intercambiam suas cinematografias. O fato é bem mais grave do que se imagina, sobretudo por se tratar dos dois maiores e mais significativos mercados cinematográficos da América Latina, ao lado do México.

Em meio a este cenário desolador do ponto de vista da integração cultural latino-americana, uma iniciativa do Canal Futura tem sido encarada como uma maneira de amenizar esta lacuna cultural que separa o excelente cinema argentino do público brasileiro. Desde o ano passado, o Canal Futura – agora operando em TV aberta – vem exibindo semanalmente filmes argentinos nunca antes lançados na terra de Walter Salles e Fernando Meirelles. O programa Cine Conhecimento vai ao ar todas as sextas-feiras e sábados, às 23h30, sem atrasos.

Assim como o Brasil, a Argentina também teve sua produção cinematográfica estagnada durante o final dos anos 80/início dos anos 90, durante os governos de Fernando Collor e Carlos Menem. Curiosamente, em ambos países a tal "retomada" da produção só se deu graças aos mecanismos governamentais de incentivo – aqui, as leis Rouanet e do Audiovisual; lá, Ley del Cine. E se 1995 foi um ano marco para a retomada do cinema brasileiro, com a produção Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil, de Carla Camurati, 1997 teve igual importância para o cinema argentino, quando os portenhos assistiram estupefatos ao longa independente Pizza, Birra, Faso, de Israel Adrián Caetano e Bruno Stagnaro, a grande surpresa do Festival de Mar del Plata daquele ano. Foi então que teve início uma espécie de boom cinematográfico no Brasil e na Argentina, com a volta do prestígio do cinema nacional com bilheterias bastante relevantes e ampla visibilidade em festivais internacionais, como o Oscar americano, Sundance e Cannes. Haja Central do Brasil, Cidade de Deus, O Filho da Noiva e Nove Rainhas para contar história.

Na programação preparada pelo Canal Futura, misturam-se desde produções mais recentes, como o ótimo El Delantal de Lili, de Mariano Galperín, até películas assinadas por cineastas importantes das décadas de 70 e 80 – como Tristán Bauer e Leonardo Favio –, anteriores à geração intitulada como Nuevo Cine Argentino. Destaque para Amigomío, longa de Jeanine Meerapfel e Alcides Chiesa, que retrata o medo e a desesperança dos portenhos envolvidos com o comunismo durante os anos sombrios da ditadura militar.

Enquanto as salas de cinema brasileiras não anunciam nenhum lançamento de Pablo Trapero, Lucrecia Martel e Daniel Burman, já identificados como representantes deste Nuevo Cine Argentino, a programação do Canal Futura é uma boa pedida para que o diálogo necessário entre nossas cinematografias mantenha-se vivo e renovado.

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