Wes Craven é um cineasta identificado com o universo dos adolescentes. Dirigiu as carnificinas de Freddy Kruger na série A Hora do Pesadelo, dos anos 80, e na década seguinte desconstruiu o cinema de horror por meio da metalinguagem presente nos três filmes da série Pânico. Teve atrevimento de experimentar com gêneros cinematográficos ao mesmo tempo em que conseguiu se estabelecer como diretor de sucessos comerciais. Vôo Noturno é um a tentativa de reinvenção do cineasta, que formula uma proposta de "terror adulto" ao lidar com aquilo que é hoje o maior medo dos Estados Unidos: o terrorismo internacional.
A ação começa no aeroporto de Miami. O lugar é neurótico e abarrotado de gente forçada aos limites da convivência dita civilizada. A partir de um episódio ocorrido em uma longa fila de espera, o roteiro introduz os personagens de Lisa Reisert, interpretada pela bela Rachel McAdams (Os Penetras Bons de Bico), e Jackson Rippner (Cillian Murphy, o espentalho de Batman Begins). Ambos embarcam no mesmo vôo.
A naturalidade com que a cena transcorre e a movimentação do aeroporto (beirando ao caos) abalam qualquer ilusão de segurança criada por discursos oficiais. Rippner é terrorista e Reisert será a única capaz de detê-lo. Craven embarca em um tour-de-force, explorando o espaço do avião para criar tensão. Não há tramas políticas ou desvios em motivações psicológicas (nunca conhecemos os motivos do terrorista), o que resulta em um longa enxuto (com 85 minutos de duração).
Craven concentra-se nas potencialidades de thriller que a trama oferece. Uma vez estabelecidos os limites que regem os personagens e seus espaços físicos e psicológicos (o avião e a figura paterna, no caso de Reisert). É quando entra em jogo um tipo de carpintaria quase extinta em Hollywood, salvo as exceções dos velhos mestres como Brian de Palma.
Embora nem tudo funcione, principalmente no último quarto da projeção, a narrativa mostra um uso seguro e preciso dos recursos do cinema, como a eficiente montagem que manipula a "duração" do tempo e as sucessivas ondas de tensão. Há também o pressuposto central, que causa terror em um outro nível: a segurança é uma sensação ilusória e nenhum grande sistema (o Estado, sobretudo) é capaz de garanti-la. Ou seja, os Estados Unidos são hoje tão expostos e vulneráveis ao terrorismo como há cinco anos, independentemente do que a administração Bush faça ou deixe de fazer.
Se não quebra paradigmas de linguagem, e tampouco essa parece ser a sua pretensão, Vôo Noturno é representante de um tipo de cinema comercial sempre bem-vindo, hoje relegado à condição de produções "B", e, infelizmente, cada vez mais raro. GGGG
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