O velho "reaça" genial
"Só quando se fica velho é que se sente a falta do pai. Borges é como um pai", diz o argentino Hugo Mengarelli. Quando era um jovem peronista, o diretor teatral não compreendia como um escritor genial como Jorge Luis Borges poderia se tornar tão conservador ao longo dos anos.
Ideologias à parte, Borges é considerado o maior escritor argentino e, sem dúvida, figura entre os mais importantes da literatura mundial. Nasceu em 1899, em Buenos Aires, e faleceu em Genebra, no ano de 1986.
Entre suas principais obras estão: Fervor de Buenos Aires, O Aleph, Ficções, História Universal da infâmia, O informe de Brodie, O livro dos seres imaginários, Prólogos, Discussão, Buda, Obras completas (4 volumes) e Elogio da Sombra.
O diretor teatral argentino Hugo Mengarelli, radicado no Brasil há mais de 20 anos, teve o privilégio de conhecer o grande mito argentino, o escritor Jorge Luiz Borges. Mas, não aproveitou a ocasião como deveria. "Há 20 anos, eu o odiava", conta. Ainda estudante de Jornalismo, em Buenos Aires, ele entrevistou o escritor na universidade, junto com os colegas. Mas a primeira (e única) pergunta que o então jovem peronista "desferiu" contra o escritor foi sobre um conto que Borges renegou até a morte.
"O Homem da Esquina Rosada", publicado em 1935, como parte do livro História Universal da Infâmia, foi escrito por um Borges jovem, que ainda compunha poemas sobre a Revolução Russa. A história de um assassino rústico faz referências ao tango, aos guapos ("os primeiros homens na escala da coragem") e às brigas com facas (cuttiladas). "Mais tarde, ele perdeu a força da juventude e se tornou um conservador. Nem por isso deixou de ser brilhante", diz Mengarelli.
Borges respondeu ao futuro diretor teatral que quando se é jovem se cometem atos dos quais nos arrependemos depois. "Isso me ofendeu, me levantei e saí, junto com cinco ou seis estúpidos como eu", lembra.
Hoje um grande estudioso de Borges, o diretor redime-se do arroubo juvenil com um espetáculo teatral: Tanguapo, em cartaz no Teatro Esperimental da UFPR, no prédio da Praça Santos Andrade.
Encenado pelo elenco da Cia. de Teatro PalavrAção, que completa 11 anos, a montagem é inspirada neste conto borgiano e em outro, produzido décadas mais tarde, "A História de Rosendo Juárez", que faz parte do livro Informe de Brodie, de 1970. "Neste conto, Borges tenta refutar o anterior, sem conseguir. Ele reconheceu que o escreveu como forma de apagar o outro" conta.
Em Tanguapo, dois personagens, o Borges jovem e o velho (interpretados por Alaor de Carvalho), narram ao público a mesma história, sob pontos de vista diferentes exatamente como fez Borges, que experimentou duas visões sobre a vida.
Os atores do elenco, incluindo o próprio Mengarelli, enfrentaram um ano e meio de aulas de tango. Também foi necessário fazer muita pesquisa para compreender o universo dramático do tango, em suas diversas fases. Fazem parte do elenco Marcos Trindade, Ana Paula Machado, Cristiano Gonçalves, Paulo Marques, Fernanda Albanaz, Alaor de Carvalho, Paulo Farias, Catherine Leclerc, André Meirelles, Mevelyn Gonçalves, Josiane Maia, Letícia da Rosa, Gilmar Rodrigues de Lima e Hugo Mengarelli.
Serviço: Tanguapo. TEUNI Teatro Experimental da UFPR (Praça Santos Andrade, prédio da UFPR). De quinta a sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas. Entrada franca. Até 18 de março.
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